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CRÍTICA PUBLICIDADE
Estudo expõe contradições da propaganda brasileira
Livro analisa a evolução do discurso publicitário desde a ditadura militar
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
Se você conseguir vencer a
barreira da linguagem -um
jargão universitário cinzelado com toques de marxismo-, encontrará em "A Nova Retórica do Capital - A Publicidade Brasileira em Tempos Neoliberais", de Maria
Eduarda da Mota Rocha,
uma leitura bastante informativa e instigante.
O livro traça um panorama
da indústria da propaganda
no Brasil desde o golpe militar de 1964 até mais ou menos o início dos anos 2000.
Ao relacionar a retórica
publicitária aos desenvolvimentos políticos e à situação
econômica, a autora explica
de modo convincente as mudanças pelas quais passou o
discurso propagandístico.
E elas não foram pequenas. Se, nos anos 70 e 80, as
peças eram caracterizadas
por uma espécie de enaltecimento do progresso e pela
valorização do produto como
promotor de status social, a
partir de meados dos anos
90, o discurso neoliberal,
embora vitorioso nos planos
político e legal, perdeu pontos no imaginário popular.
As razões para essa perda
de prestígio incluem desde
ingredientes políticos, como
a atribuição do fracasso do
Plano Cruzado ao comportamento de alguns empresários, até propriamente econômicos, notadamente o
processo de "commoditização" por que passaram diversos bens de consumo.
Na publicidade, isso se
materializou numa linguagem que glorifica a qualidade de vida e a responsabilidade social das empresas.
"CASES"
Mota Rocha não se limita a
teorizar sobre as mudanças,
mas as demonstra através de
uma profusão de exemplos.
É nessas passagens que o
livro se torna uma divertida
viagem no tempo, em especial para leitores com mais de
40 anos, que irão reencontrar
campanhas que marcaram
momentos de suas vidas.
Alguns dos anúncios podem até chocar as sensibilidades contemporâneas: "Veja como o gerente do seu banco vai se sentir quando você
aparecer num Dodge Dart Sedan" (1971); "A vida é uma
escada. Este é o degrau mais
alto" (H. Stern, 1988); "Se todo mundo tivesse privilégio,
o privilégio não existiria"
(American Express, 1981).
Duplamente escandalosa
tende a ser a propaganda de
cigarros, por existir e pelo tipo de mensagem que transmitia: "Mais que um cigarro,
um estilo de vida" (Hilton,
1971); "Fino como poucas
coisas e elegante como certas
pessoas" (Chanceller, 1980).
Se a retórica publicitária
atual, na qual empresas exaltam suas virtudes cívicas e o
consumidor é tratado como
um sujeito inteligente que faz
as escolhas que mais lhe convêm, não choca, é porque
nos acostumamos a ela.
Olhando com maior distanciamento, entretanto,
constatamos que ela mal esconde uma contradição, na
qual o consumo é ao mesmo
tempo incentivado e tratado
como um valor menor, entre
a futilidade e a amoralidade.
A NOVA RETÓRICA DO
CAPITAL
AUTORA Maria Eduarda da Mota
Rocha
EDITORA Edusp
QUANTO R$ 40 (272 págs.)
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