São Paulo, quinta-feira, 03 de fevereiro de 2011

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ANÁLISE

Protestos árabes trazem riscos de estagflação


TRÊS DAS ÚLTIMAS CINCO RECESSÕES MUNDIAIS VIERAM APÓS UM CHOQUE POLÍTICO NO ORIENTE MÉDIO

NOURIEL ROUBINI
ESPECIAL PARA O "FINANCIAL TIMES"

Os levantes na Tunísia e agora no Egito têm importantes implicações econômicas e financeiras.
Cerca de dois terços das reservas mundiais comprovadas de petróleo e quase metade das reservas de gás natural estão no Oriente Médio; o risco geopolítico na região, portanto, causa saltos nos preços do petróleo que têm consequências mundiais.
Três das cinco últimas recessões mundiais se seguiram a um choque geopolítico no Oriente Médio que resultou em alta de preços do petróleo. Nas outras, o petróleo também teve um papel.
A Guerra do Yom Kippur, em 1973, deflagrou uma alta acelerada que resultou em estagflação (recessão combinada a inflação) mundial.
A revolução iraniana de 1979 conduziu a uma alta estagflacionária semelhante nos preços do petróleo e deflagrou a recessão de 1980. A invasão iraquiana ao Kuwait em 1990 elevou os preços do petróleo no momento em que a crise do setor de poupança e de crédito imobiliário arremessava os EUA numa recessão.
Mesmo na recessão de 2001, causada pelo estouro da bolha da tecnologia, o petróleo teve um papel, já que a segunda intifada dos palestinos e a tensão na região causaram alta de preços.
O petróleo também foi importante na mais recente recessão mundial. Os EUA entraram em recessão em dezembro de 2007, depois do colapso do mercado de crédito imobiliário de alto risco. Na metade de 2008, os preços do petróleo registravam alta de 100% em cerca de 12 meses e atingiram o pico de US$ 148 por barril.

CONTÁGIO
Não sabemos ainda até que ponto o contágio político se espalhará pelo Oriente Médio ou em outras regiões. Tampouco se haverá alta significativa dos preços. Mas existe um risco de que o ataque às autocracias do Oriente Médio não resulte em democracias estáveis.
É claro que a esperança deveria ser a de que os acontecimentos conduzam a eleições livres e a governos que representem as necessidades e aspirações das massas.
Mas a experiência recente de "eleições livres" e "democracia" no Oriente Médio é decepcionante: a revolução iraniana levou a um regime autoritário; a eleição na Faixa de Gaza resultou na ascensão do Hamas; no Líbano, quem ascendeu foi o movimento armado Hizbollah; a invasão no Iraque causou guerra civil e uma pseudodemocracia instável.
Mesmo antes dos recentes choques políticos, os preços do petróleo haviam ultrapassado US$ 90. Agora, estão na região dos US$ 100 por barril.
Essa alta e os aumentos correlatos nos preços de outras commodities, especialmente alimentos, causam inflação nas economias emergentes que já estão superaquecidas e nas quais os preços do petróleo e alimentos representam até dois terços dos gastos básicos.
Ela também representa um choque para o comércio e para a renda disponível das economias avançadas. Por fim, torna os investidores mais avessos a riscos e pode reduzir a confiança de consumidores e empresários.
Tumultos como esses e a ameaça de novos aumentos pesados nos preços da energia representam sério risco para uma economia mundial que está se recuperando de modo hesitante de sua pior crise financeira em décadas.

NOURIEL ROUBINI é presidente da Roubini Global Economics, professor da Escola Stern de Administração de Empresas, Universidade de Nova York, e coautor de "A Economia das Crises".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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