São Paulo, quinta-feira, 03 de novembro de 2011

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VINICIUS TORRES FREIRE

Brasil anda e fica no mesmo lugar


Dados sociais do resto do mundo mostram que país não avançou mais que a média na última década


APENAS GENTE muito casmurra e com espírito de porco dirá que o Brasil não melhorou nos últimos 10, 15 anos. Mas o ranking de desenvolvimento humano da ONU, divulgado ontem, sugere que estamos quase no mesmo lugar, em termos relativos, ao menos desde 2000. Sim, estamos menos pobres e doentes, a desigualdade caiu e a política é a menos selvagem de toda a nossa história. Somos uma gente quase tão ignorante como sempre, mas até tentamos nos matar menos com tiros, carros e doenças primitivas. Tocamos menos fogo nas matas e sujeira na água e no ar.
Porém, segundo o ranking da ONU, apenas voltamos a tomar um assento na segunda classe do bonde da civilização, de onde havíamos descido entre 1980 e 1990.
Nosso lugar no ranking do "Índice de Desenvolvimento Humano" (IDH) é o 84º entre 187 países. O IDH é a média geométrica de renda nacional bruta per capita, expectativa de vida ao nascer e anos de escola.
O IDH é composto de medidas que tendem a variar devagar, talvez menos no caso da renda. A evolução de uma década diz algo melhor sobre nossos progressos. Entre os 47 países de "alto desenvolvimento" (do 48º ao 94º lugar), nossa taxa de melhoria foi um tico abaixo da média entre os anos 2000 e 2011.
Ok, subimos três posições no ranking desde 2006. E daí? Quando o IDH é ajustado para levar em conta a desigualdade, despencamos 13 lugares no ranking de desenvolvimento humano de 2011.
Apesar da falação exagerada sobre redução da injustiça e essa ficção ideológica e mercantil de "nova classe média", o Brasil ainda é líder em desigualdade de renda.
No nosso grupo, os 47 países de "alto desenvolvimento", apenas a Colômbia é mais desigual (quando se compara a renda dos 20% mais ricos com os 20% mais pobres).
No listão da ONU, só nove países são mais selvagens nesse quesito. Pela ordem: Namíbia, Angola, Honduras, Haiti, Colômbia, Bolívia, Botsuana, África do Sul e Lesoto.
Pode-se objetar que os dados aqui devem ser bem menos precisos (e podem ter sido medidos entre 2000 e 2011, a depender de cada país). Ainda assim: apenas nove piores?
Nos rankings de expectativa de vida e de educação ajustados para levar em conta a desigualdade, a situação brasileira é melhor que no caso da renda. De qualquer modo, ficamos na nossa "média": ali pelo meião da distribuição, da tabela. Embora não seja novidade, vale sempre ressaltar a vergonheira que é a nossa média de anos de escola: 7,2 anos. Entre 141 países, superamos apenas 26 (os demais 46 países do ranking são os de "baixo desenvolvimento humano", basicamente África e sul da Ásia miseráveis: não dá para comparar).
Por fim, algumas notas curiosas. A quebradíssima Irlanda tem o 7º melhor IDH do mundo. Os EUA estão em 4º, mas caem para 23º se levada em conta a desigualdade.
A falida Grécia fica em 29º lugar: logo abaixo do Reino Unido, que tem uma das piores médias de anos de estudo do mundo rico: está em 68º lugar no listão da ONU.
Onde está a maior desigualdade de renda dos 47 países de "muito alto desenvolvimento humano"? Pela ordem: Qatar, Argentina (sim, os "hermanos" ainda estão na "elite", com o Chile), Cingapura, Hong Kong e Estados Unidos da América.

vinit@uol.com.br


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