São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2011

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ANÁLISE

Investimentos portuários no Brasil privilegiaram o transporte de carga

PAULO TARSO RESENDE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Países como os Estados Unidos, a China e o Chile investiram em sua estrutura portuária, com picos de recursos aplicados que beiram a 2% do PIB.
O resultado são portos que movimentam bilhões de toneladas de mercadorias e milhões de turistas/ano.
No Brasil, o desembolso jamais chegou a 0,2% do PIB. As consequências são sentidas na movimentação de cerca de 700 milhões de toneladas/ano -mais de 80% em commodities-, em 43 portos.
Além disso, é um meio que representa 2% do total de movimentação de passageiros internacionais, enquanto o modal aéreo atinge 70%, seguido do terrestre, com 27%.
No resto do mundo, o transporte marítimo acompanhava o crescimento do turismo por meio da reestruturação de rotas, adequação de terminais e revitalização de áreas portuárias, enquanto o Brasil buscava focar seus projetos nas cargas.
Esses projetos, somados ao aumento no comprimento e na capacidade dos navios, constituíram uma barreira ao transporte de passageiros.
E, como os investimentos sempre estiveram longe do necessário, o aumento no tempo de espera para atracação dos navios, aliado a uma pressão nos custos portuários, foi inevitável.
O país apresentou, em 2010, aproximadamente 3.000 dias de atraso em navios de contêineres, representando US$ 900 milhões -cerca de 8% do custo dos fretes.
Essa ineficiência clama por obras de prolongamento dos berços de atracação e de aprofundamento dos canais de acesso. Ou seja, transforma o transporte de passageiros em concorrente.
Nesse "jogo", as operações de passageiros são empurradas para as marinas ou para os cantos menos desenvolvidos e aparelhados.
Assim, o Brasil corre o risco de não ter estrutura adequada para atender à demanda dos jogos de 2014 e 2016.
O porto do Rio de Janeiro, com seu projeto de reestruturação baseado no exemplo de Barcelona, é uma luz para possível referência futura.
Não obstante, a regra é um país com uma pauta concentrada nas cargas e, mesmo nesse caso, longe do ideal.
Enquanto isso, continuamos a ver navios, e, quando estes nos visitam, encontram péssima estrutura portuária.
E ainda têm de enfrentar a burocracia até para prolongar o visto de tripulantes.

PAULO TARSO RESENDE, Ph.D, é professor da Fundação Dom Cabral



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