São Paulo, sábado, 04 de dezembro de 2010

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ANÁLISE ÍNDICES

Comportamento do preço externo dos alimentos pressiona a inflação interna

PAULO PICCHETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA

O IPC-S (Índice de Preços ao Consumidor Semanal, calculado pela Fundação Getulio Vargas) fechou novembro com elevação de 1%.
O índice impressiona pelo seu número absoluto -se anualizado, corresponderia a quase o dobro do teto da meta a ser cumprida pelo Banco Central em 2011, que será de 4,5%.
Mais uma vez, a principal responsabilidade recai sobre o grupo alimentação. Os alimentos tiveram alta média de 2,3% em novembro, acumulando 8,5% nos últimos 12 meses (ante 4,8% do IPC-S).
Em março deste ano, o grupo alimentação já havia tido elevação média de 2,6%, bem superior à de novembro.
Entretanto, a comparação entre esses dois períodos mostra cenários bem diferentes.
As altas de preços do início de 2010 foram claramente caracterizadas por problemas de oferta interna, decorrentes do clima adverso do último verão.
Os principais produtos afetados pelo calor foram os itens do grupo hortaliças e legumes, que tiveram elevação de 12,7% em março, com impacto de 0,44% sobre o índice total daquele mês.
Isso caracterizava claramente um choque de oferta da produção doméstica, que não criava a perspectiva de continuidade de elevações dos índices de preços ao consumidor no Brasil.
De fato, com o clima favorável, essa situação reverteu-se rapidamente, sendo que o grupo alimentação foi o principal responsável pelas deflações verificadas no trimestre junho a agosto deste ano.

PRESSÃO EXTERNA
A natureza predominantemente interna do problema de oferta fica clara quando analisamos o comportamento dos preços internacionais de alimentos medido através do Food Price Index da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação).
Após atingir 174 pontos em janeiro de 2010, esse índice estava em queda em março, registrando 162,8 pontos, na contramão dos preços dos alimentos no Brasil.
Já em novembro, esse índice atingiu 205,4 pontos. O que se percebe da comparação entre esses números é que a natureza da pressão inflacionária exercida pelos alimentos neste final de 2010 está muito menos ligada a problemas climáticos do país, e muito mais ao comportamento dos preços no mercado internacional.
Enquanto as hortaliças e os legumes (grupo essencialmente caracterizado pela oferta da produção local) estão agora em queda no IPC-S (-1,3% em novembro), o grupo de carnes bovinas (item altamente ligado ao mercado internacional) está em forte elevação (10,7%).
Dadas as perspectivas de continuidade de aumentos e patamares elevados de preços dos produtos agrícolas no mundo durante os próximos meses, a perspectiva não é favorável para o comportamento da inflação no Brasil, ao contrário do que aconteceu na primeira metade deste ano.

PAULO PICCHETTI, 48, doutor em economia pela Universidade de Illinois, é professor da EESP/FGV (Fundação Getulio Vargas) e coordenador do IPC-S/Ibre/FGV).


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