São Paulo, sábado, 05 de março de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Pequena empresa não chega à Bolsa

Comissões, custos administrativos e falta de apetite do investidor dificultam entrada de empresa menor na Bovespa

Apenas 500 empresas brasileiras estão na Bolsa e captação média é de US$ 700 mi; na Índia, há 6.000 abertas


TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

O Brasil tem 15 mil empresas com porte para se financiar no mercado de capitais, mas pouquíssimas companhias de médio e pequeno portes conseguem, de fato, chegar à Bolsa. Nesta semana, fracassou a estreia da CAB Ambiental, empresa de saneamento da Galvão Participações, na BM&F Bovespa.
A CAB pretendia levantar pouco mais de R$ 100 milhões na BM&FBovespa, mas preferiu abortar a operação porque não conseguiu obter o mínimo de recursos para pagar a operação e ainda sobrar dinheiro em caixa para viabilizar sua expansão.
Para as empresas menores, as barreiras vão desde o alto custo de criar e manter uma estrutura para gerenciar o relacionamento com o mercado até o da operação em si.
Intermediadores, como bancos, advogados, auditores e consultores, costumam levar até 7,1% dos recursos captados das operações menores. Em ofertas gigantes de ações, como a da Petrobras no ano passado, as comissões levaram só 0,3%.
Mas o que pega mesmo é a falta de demanda dos próprios investidores para comprar ações que serão, necessariamente, menos negociadas e com maior risco.
No Brasil, uma empresa nunca vai à Bolsa para levantar menos de R$ 1 bilhão, espécie de "barreira psicológica" que impera nos momentos instáveis do mercado global. A média no ano passado era de US$ 700 milhões até outubro, segundo a Federação Mundial de Bolsas.
Países como a Índia, cujo mercado é bem menor do que o brasileiro, conseguem viabilizar operações médias de US$ 98 milhões. A Índia tem mais de 6.000 empresas na Bolsa, enquanto o Brasil só tem menos de 500.
Mesmo na americana Nasdaq, preferida das empresas de internet, a média das ofertas é de US$ 99 milhões.

BOVESPA MAIS
Neste ano, a Bolsa apostou suas fichas na CAB para relançar o Bovespa Mais, espécie de "mercado de acesso" para empresas pequenas iniciarem sua atuação na Bolsa. O Bovespa Mais tem regra mais flexível para abrir capital -não é necessário pôr na Bolsa 25% das ações, manter conselho com cinco membros e fazer oferta no varejo.
"O mercado não entendeu o setor de saneamento, que hoje só tem empresas estatais. Nós não conseguimos explicar o potencial de crescimento desse setor. Eram duas novidades juntas: saneamento e o Bovespa Mais", disse Yves Besse, presidente da CAB Ambiental.
As empresas argumentam que têm quase o mesmo trabalho (e custo) para abrir capital no Bovespa Mais do que no Novo Mercado, selo de alta transparência da Bolsa.
Tanto que empresas pequenas, como as lojas Le Lis Blanc e a Renova, de energia renovável, preferiram ir direto para o Novo Mercado, apesar de fazer captações modestas de R$ 150,2 milhões e de R$ 172,5 milhões.
"Esse é o nosso dilema. Por uma lado, as empresas buscam certa flexibilidade para ter um custo menor. Por outro, temos o investidor que quer proteção. Ele está disposto a abrir mão de liquidez, mas quer ter certeza de que vai ter auditoria e informação. O Bovespa Mais é aposta de longo prazo, um segmento que temos convicção de que vai funcionar. Se uma oferta não deu certo, é parte da dinâmica. Esse começo é sempre difícil", disse Cristiana Pereira, diretora da Bolsa.


Texto Anterior: Cotações/Ontem
Próximo Texto: Bolsa de NY assedia empresa média no Brasil
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.