São Paulo, terça-feira, 05 de abril de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ANÁLISE SAFRA

Estados Unidos precisarão de clima perfeito para não ficar sem a oleaginosa

FERNANDO MURARO JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na letra de "Meio de Campo", de Gilberto Gil, há um trecho que diz "a perfeição é uma meta defendida pelo goleiro que joga na seleção...".
Impossível não se lembrar dessas palavras na análise dos primeiros números de intenção de plantio da safra 2011/12 dos Estados Unidos, divulgados pelo Usda (Departamento de Agricultura) na quinta-feira passada.
Não que os dados de área plantada tenham trazido grandes surpresas. Ao apontar 31 milhões de hectares para a soja -322 mil menos que na safra anterior-, o órgão confirmou a expectativa geral de que a oleaginosa perderia espaço para o milho, que avança 1,6 milhão de hectares, para 37,3 milhões.
O relatório confirmou, também, a perda de terreno da soja para o algodão, que atingiu os melhores preços da história no primeiro trimestre (tempo de decisão de plantio para o fazendeiro norte-americano) e cuja área aumenta 644 mil hectares, para 5,1 milhões.
Como atrair área plantada é uma das funções do preço, ganhou mais hectares quem conseguiu subir mais.
A redução de 322 mil hectares na área de soja é pequena, mas agrava uma situação de abastecimento que já é dramática.
Em outro relatório divulgado no mesmo dia -o trimestral de estoques físicos (este, sim, com números mais marcantes para o mercado)-, o Usda mostrou que os armazéns dos Estados Unidos guardavam apenas 34 milhões de toneladas de soja em 1º de março.
Isso significa que o consumo do grão no primeiro semestre da temporada comercial 2010/11 (setembro do ano passado-fevereiro deste ano) foi de 61,1 milhões de toneladas, o maior da história.
O número reforça a expectativa de que o país terminará a temporada, em 31 de agosto, com estoques finais de apenas 3,8 milhões de toneladas, o que equivale a 15 dias de consumo -o menor nível já registrado.

POUCO ESTOQUE
Levando em conta esses estoques finais (que se tornam os estoques iniciais da temporada seguinte), a área estimada pelo Usda (uma produtividade média de 48,5 sacas por hectare, linha de tendência de 20 anos) e um consumo total (doméstico e exportações) de 91 milhões de toneladas, os Estados Unidos terminariam o ciclo comercial 2011/12 com apenas 2,3 milhões de toneladas em estoque, ou apenas nove dias de consumo, o que já seria complicado.
Com produtividade apenas 3% inferior, de 47 sacas por hectare, já haveria deficit de abastecimento, o que levaria à necessidade de racionamento do consumo.
Um verdadeiro drama, portanto, e que pode ficar ainda pior caso ocorram problemas climáticos sérios ao longo da safra.
Em resumo: se não quiserem ficar sem soja, os Estados Unidos terão de ter um clima perfeito como a meta para o goleiro da seleção na canção de Gilberto Gil.

FERNANDO MURARO JR. é engenheiro-agrônomo e analista de mercado da AgRural Commodities Agrícolas.


Texto Anterior: Chuva afeta soja paulista
Próximo Texto: Vaivém - Mauro Zafalon: Crise política na Costa do Marfim afeta cacau
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.