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Natura se adapta a diferenças regionais
Empresa lança produtos específicos para cada região do país, considerando diversidade cultural e de clima
Produtos regionais são desenvolvidos pelas unidades locais, a
partir de um modelo de gestão descentralizado
MARIANA BARBOSA
DE SÃO PAULO
O modelo de gestão adotado pela Natura a partir de
2008, com redução de níveis
hierárquicos e maior autonomia para líderes regionais,
começa a produzir frutos.
O resultado não está só no
balanço financeiro, mas nos
catálogos de produtos.
No Norte, as torcidas do
Caprichoso e do Garantido
(bois-bumbás do festival de
Parintins, no Amazonas) puderam se diferenciar não
apenas pela cor, mas também pelo cheiro, com os novos perfumes Canto Azul e
Canto Vermelho.
A nova linha de hidratantes Todo Dia Inverno, para
enfrentar o frio, só está disponível em São Paulo. Para o
Nordeste, está sendo lançado
um novo hidratante, mais leve, à base de graviola.
Esses produtos foram concebidos localmente, por unidades regionais criadas em
2008 e que funcionam como
minifábricas da Natura.
São cinco regiões: Norte,
Nordeste, central do Brasil
(Rio, Minas, Espírito Santo e
Centro-Oeste), São Paulo capital e SP interior/litoral.
Cada uma tem autonomia
para estabelecer preços e
promoções, definir estratégias de marketing e políticas
de contratação, entre outros.
"Claro que somos todos da
mesma família, compartilhamos os mesmos valores e temos os mesmos objetivos",
afirma o vice-presidente, José Vicente Marino, a quem os
diretores das cinco regiões se
reportam.
Antes de a empresa ser dividida em cinco regiões, e
também em outras quatro
unidades de negócios relativas a linhas de produtos, só
havia um catálogo para todo
o Brasil. Agora, cada região
tem o seu, adaptando a oferta aos hábitos locais.
Se um produto não vende
em uma região, é tirado do
catálogo. "Para uma revista
que tem tiragem de mais de
2 milhões de exemplares, e
que é publicada a cada três
semanas, uma página a menos tem grande impacto ambiental", diz Marino.
Como entre as metas que
os executivos da Natura têm
de cumprir para obter participação nos lucros estão as metas ambientais, cada página
faz diferença.
A Natura não divulga
-nem pretende divulgar-
resultados por região. Marino diz apenas que, em todas
as regiões, eles estão "acima
das expectativas".
Para dar suporte à regionalização, a companhia
inaugurou, nos últimos dois
anos, três centros de distribuição: em Recife (PE), Salvador (BA) e Canoas (RS). O
tempo de entrega dos pedidos, que era de quatro dias,
passou para um ou dois.
OUTRAS INICIATIVAS
Produtos regionais não
são uma novidade. Há muito
que a Kibon/Unilever produz
picolé com sabores de frutas
do Nordeste, vendidos apenas naquela região.
Outras multinacionais, como Procter&Gamble e Nestlé, também possuem produtos específicos para o Nordeste. Mas o foco é mais econômico, ligado à baixa renda, do que a características
efetivamente regionais.
"Para as multinacionais, o
Brasil já é uma região", diz
Maurício Morgado, professor
de marketing da Escola de
Administração da FGV (Fundação Getulio Vargas).
"A Natura está dando um
passo a mais elevando a regionalização a outro nível."
Para David Kallás, professor de gestão estratégica do
Insper, a descentralização é
um conceito moderno de gestão, mas de difícil adoção.
"Para descentralizar, é preciso abrir mão de poder e acreditar, de fato, nas pessoas."
O maior exemplo de descentralização hoje é o Google, que nem sequer trabalha
com o conceito de orçamento. "Como os próprios fundadores do Google costumam
dizer, se eles tivessem metas
e orçamento, não teriam
crescido como cresceram."
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