São Paulo, sexta-feira, 05 de agosto de 2011

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RODOLFO LANDIM

Será que eles podem?


Chegou a hora de, mesmo apertando os cintos, os EUA provarem ao mundo, outra vez, que, sim, eles podem

NA TERÇA-FEIRA passada, o Congresso americano terminou a longa batalha política que foi travada para a aprovação do aumento do nível de endividamento do país. Vários foram os personagens importantes que estiveram envolvidos, mas o principal -e também o maior derrotado- foi o presidente americano.
Obama é um estadista simpático, cativante, excelente orador, certamente um homem de bem, mas que tem se mostrado fraco como líder.
Sua eleição ocorreu em meio a uma enorme crise econômica cuja responsabilidade pode ser em grande parte atribuída a uma série de medidas adotadas, e outras que deixaram de ser, pelo governo republicano que o antecedeu.
A frase que marcou a sua campanha, "Yes, we can", mexeu com os brios da nação mais vencedora e admirada da história contemporânea, mas hoje ela se encontra distante do real estado de espírito de boa parte dos cidadãos americanos.
As notícias ruins não param de chegar. Os indicadores da produção industrial e do consumo não têm sido bons, mostrando que a incerteza e o pessimismo quanto ao futuro são crescentes e vêm afetando o comportamento das pessoas.
Por sua vez, a oferta de emprego não aumenta. E certamente passar semanas tendo como a notícia principal em todos os meios de comunicação um eventual risco de calote nas dívidas públicas com possíveis atrasos de pagamento a funcionários do governo e cortes de auxílio-doença não ajuda em nada.
Mas talvez o maior de todos os problemas seja a percepção de que o país se encontra dividido, sem uma liderança capaz de criar o consenso entre posições cada vez mais radicalizadas sobre qual caminho seguir para tirar a maior economia do mundo da difícil situação em que se encontra e colocá-la novamente em condições de manter um nível de crescimento satisfatório até para que haja condições de que a dívida seja paga.
Uma coisa admirável que sempre ocorreu nos Estados Unidos é que, diante de uma ameaça, o espírito público sempre se sobressaiu aos interesses de grupos, o que passava ao mundo a percepção de um gigante forte e unido.
Não é o que vemos agora. A vontade de fazer os democratas sangrarem -de certa forma antecipando o debate eleitoral da disputa presidencial do próximo ano- foi maior.
Apesar de existir a certeza de que ao final do processo ninguém iria querer correr o risco de ser responsabilizado por levar o país a entrar em moratória, os republicanos forçaram para que a crise se estendesse até o último dia, como forma de ganhar poder de barganha para impor suas condições.
Isso gerou um clima de insegurança e de medo pela indecisão e incapacidade política de negociação, cujos reflexos foram imediatamente sentidos nos mercados de todo o mundo e ainda perduram mesmo após o acordo. Além do impacto das medidas aprovadas, algo de mais fácil precificação, o problema envolve credibilidade.
Não restam dúvidas de que a dívida americana, que já atingiu o tamanho do PIB do país, requer medidas duras para sua solução, seja no crescimento dos impostos a serem arrecadados dos mais ricos, como desejam os democratas, seja com a redução dos gastos públicos, como preferem os republicanos.
Será um desafio grande e duradouro, mas a espantosa infraestrutura implantada, a grande capacidade científica e de inovação de um povo que tem a possibilidade de acesso a boa parte das melhores universidades do mundo e a cultura empreendedora existente no país torna isso possível.
Pelo menos, parece que essa, no fundo, é a crença do mundo todo, já que, apesar do ocorrido, os títulos públicos americanos são os papéis que pagam os menores juros do planeta, algo que aparentemente seria uma enorme contradição para um país à beira da insolvência.
Os tiros que tiveram o governo democrata como alvo, na realidade, acertaram a credibilidade e a autoestima de toda a nação.
Os norte-americanos já deram inúmeras demonstrações de superação ao longo de sua história. Chegou a hora de, mesmo apertando os cintos, os EUA provarem ao mundo, mais uma vez, que, sim, eles podem.

RODOLFO LANDIM, 54, engenheiro civil e de petróleo, é presidente da YXC Oil & Gas e sócio-diretor da Mare Investimentos. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreve, às sextas-feiras, a cada duas semanas, nesta coluna.

AMANHÃ EM MERCADO:
Kátia Abreu


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