São Paulo, sábado, 05 de novembro de 2011

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cifras & letras

CRÍTICA ECONOMIA

Republicano propõe fim do banco central americano

Congressista relaciona existência da instituição à inflação e a guerras

GUILHERME BRENDLER
DE SÃO PAULO

Preste atenção nas frases: "A deflação de bolhas financeiras e a inflação do custo de vida são problemas que apenas canalhas como os do Fed [o banco central americano] podem nos causar"; "O negócio do Fed é gerar inflação" e "O Fed é responsável pela crise em que estamos e precisa ser eliminado".
O autor das declarações é americano, mas não é o linguista Noam Chomsky, nem o cineasta Michael Moore. É Ron Paul, 76, deputado republicano pelo Texas. As ideias estão no seu livro "O Fim do Fed" (É Realizações), publicado em 2009 nos EUA.
As afirmações vêm de um congressista identificado com o Tea Party, duas vezes pré-candidato à Presidência (em 1988 e 2008) e que está em campanha para ser o representante republicano na eleição do ano que vem.
Mas por que Ron Paul quer abolir o Fed? "Por ser imoral, inconstitucional e antiprático, por promover más políticas econômicas e corroer a liberdade." Ele argumenta que a excessiva produção de dólares provoca uma inflação capaz de destruir a moeda em pouco tempo.
Segundo ele, a medida prejudica apenas os pobres e a classe média, que fatalmente perdem seu poder de compra. Por outro lado, o governo injeta bilhões em "instituições consideradas essenciais para o bem-estar nacional, como o banco Goldman Sachs e a seguradora AIG".

MÁQUINA DE DINHEIRO
A extinção do Fed, fundado em 1913, poderia ser lenta e gradual, propõe o autor, que defende a volta do padrão-ouro como sistema monetário. A medida faria com que a economia não sofresse tanto com a inflação, provocada em geral pelo governo, diz.
Outro passo seria a diminuição dos poderes do banco: proibir o aumento da oferta de moeda e abolir o poder de monetizar dívidas. Em seguida, o Fed teria que tornar públicas suas audiências e relatórios (nem os congressistas têm acesso, reclama Paul).
O deputado libertário afirma que o governo americano também usa a impressora para financiar guerras mundo afora. Sem a máquina de dinheiro, os governos buscavam medidas diplomáticas para evitar a guerra e, depois de iniciada, tentavam encerrá-la o quanto antes, diz.
Apesar de não ser levado muito a sério por democratas nem por republicanos, Ron Paul tem ganhado espaço nas redes sociais por meio de ações de apoiadores.
O jovem Chris Savvinidis, num de seus discursos durante o Ocupe Wall Street, apoia o livre mercado e a extinção do Fed e do papel-moeda.
Já o músico Steve Dore mantém um canal no YouTube com vídeos em que exibe suas composições que pregam a diminuição dos gastos do governo e, claro, propõem o fim do banco central.
Produzido depois de uma eleição vencida por um democrata e uma grave crise advinda de um governo republicano, o livro é um panfleto ideológico bem construído.
Àqueles que pensam que a obra se resume a afirmações dúbias quanto a sua autoria aqui vai uma asserção do inconfundível Ron Paul: "Pense no sistema soviético aplicado à indústria bancária e você terá o Fed".

O FIM DO FED
AUTOR Ron Paul
EDITORA É Realizações
TRADUÇÃO Bruno Garschagen e Mônica Magalhães
QUANTO R$ 33 (240 págs.)
AVALIAÇÃO Bom


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