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Microcrédito enfrenta hostilidade política
Antes ferramenta contra a pobreza, modelo é criticado em países em desenvolvimento
VIKAS BAJAJ
DO "NEW YORK TIMES", EM MUMBAI
No passado, líderes mundiais louvavam o microcrédito como ferramenta poderosa que poderia ajudar a eliminar a pobreza. Agora essa ferramenta encontra hostilidade política em Bangladesh,
Índia, Nicarágua e outros
países em desenvolvimento.
Em dezembro, a primeira-ministra de Bangladesh, xeque Hasina Wazed -que promoveu o microcrédito em
companhia de Bill Clinton
durante a presidência dele-,
inverteu sua posição.
Ela declarou que as instituições estavam "sugando o
sangue dos pobres em nome
do combate à pobreza" e ordenou investigação sobre o
Grameen Bank, pioneiro dos
microcréditos e que recebeu,
com seu fundador, Muhammad Yunus, o Nobel da Paz
de 2006.
Na Índia, que até recentemente abrigava instituições
de crescimento mais rápido,
os empréstimos se reduziram
acentuadamente depois que
um Estado adotou lei severa
restringindo suas operações.
Em Nicarágua, Paquistão e
Bolívia, ativistas e políticos
vêm instando devedores a
não quitar empréstimos.
A hostilidade com relação
ao microcrédito representa
reversão com relação a elogios e boa vontade que políticos, assistentes sociais e banqueiros dedicaram ao setor
nos dez últimos anos.
A atenção ajudou o setor a
atingir mais de 91 milhões de
clientes, com empréstimos
totais de mais de US$ 70 bilhões até o final de 2009.
Uma minoria considerável
dos devedores, porém, tornou-se prisioneira de uma espiral de dívidas, de acordo
com estudos e análises. "Crédito é tanto uma fonte de possibilidades quanto um fardo", disse David Roodman,
pesquisador no Centro de Desenvolvimento Mundial.
Algumas das instituições
vêm obtendo lucros que causariam inveja aos banqueiros
de Wall Street. Por exemplo,
investidores da indiana SKS
Microfinance venderam
ações em 2010 por preços até
95 vezes maiores do que pagaram alguns anos atrás.
Enquanto isso, certos políticos passaram a descrevê-las como exploradoras.
"Essas crises acontecem
quando o setor de microfinanças fica saturado, quando cresce rápido demais e o
mecanismo para controlar o
excesso de endividamento
não está bem desenvolvido",
diz Elisabeth Rhyne, dirigente da Accion International,
organização que investe em
instituições de microcrédito.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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