São Paulo, quinta-feira, 06 de janeiro de 2011

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Microcrédito enfrenta hostilidade política

Antes ferramenta contra a pobreza, modelo é criticado em países em desenvolvimento

VIKAS BAJAJ
DO "NEW YORK TIMES", EM MUMBAI

No passado, líderes mundiais louvavam o microcrédito como ferramenta poderosa que poderia ajudar a eliminar a pobreza. Agora essa ferramenta encontra hostilidade política em Bangladesh, Índia, Nicarágua e outros países em desenvolvimento.
Em dezembro, a primeira-ministra de Bangladesh, xeque Hasina Wazed -que promoveu o microcrédito em companhia de Bill Clinton durante a presidência dele-, inverteu sua posição.
Ela declarou que as instituições estavam "sugando o sangue dos pobres em nome do combate à pobreza" e ordenou investigação sobre o Grameen Bank, pioneiro dos microcréditos e que recebeu, com seu fundador, Muhammad Yunus, o Nobel da Paz de 2006.
Na Índia, que até recentemente abrigava instituições de crescimento mais rápido, os empréstimos se reduziram acentuadamente depois que um Estado adotou lei severa restringindo suas operações.
Em Nicarágua, Paquistão e Bolívia, ativistas e políticos vêm instando devedores a não quitar empréstimos. A hostilidade com relação ao microcrédito representa reversão com relação a elogios e boa vontade que políticos, assistentes sociais e banqueiros dedicaram ao setor nos dez últimos anos.
A atenção ajudou o setor a atingir mais de 91 milhões de clientes, com empréstimos totais de mais de US$ 70 bilhões até o final de 2009.
Uma minoria considerável dos devedores, porém, tornou-se prisioneira de uma espiral de dívidas, de acordo com estudos e análises. "Crédito é tanto uma fonte de possibilidades quanto um fardo", disse David Roodman, pesquisador no Centro de Desenvolvimento Mundial.
Algumas das instituições vêm obtendo lucros que causariam inveja aos banqueiros de Wall Street. Por exemplo, investidores da indiana SKS Microfinance venderam ações em 2010 por preços até 95 vezes maiores do que pagaram alguns anos atrás.
Enquanto isso, certos políticos passaram a descrevê-las como exploradoras. "Essas crises acontecem quando o setor de microfinanças fica saturado, quando cresce rápido demais e o mecanismo para controlar o excesso de endividamento não está bem desenvolvido", diz Elisabeth Rhyne, dirigente da Accion International, organização que investe em instituições de microcrédito.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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