São Paulo, domingo, 06 de fevereiro de 2011

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GORDON BROWN

Acordo de crescimento mundial


Obama tem razão ao dizer que o Ocidente enfrenta desafios, mas está diante de grandes oportunidades


O PRESIDENTE norte-americano Barack Obama capturou a imaginação do planeta ao discursar recentemente sobre um novo "momento Sputnik". Ele delineou um plano audacioso para melhorar educação, infraestrutura e tecnologia e comparou a determinação necessária para colocar um homem na Lua àquela que será necessária para restaurar o crescimento da economia dos Estados Unidos.
Obama tinha razão ao dizer que o Ocidente enfrenta não apenas grandes desafios mas também está diante de grandes oportunidades.
Na década passada, a economia mundial foi transformada pelo ingresso de 1 bilhão de operários asiáticos na força de trabalho industrial.
Em 2011, pela primeira vez em dois séculos, Europa e América encaram a perspectiva de se verem superadas em produção, exportação e investimento pela China e os demais países do mundo.
Mas o crescimento da Ásia também oferece esperanças econômicas sem precedentes ao Ocidente.
Nesta década, o mundo voltará a ser transformado pela ascensão do consumidor asiático. Em 2020, os mercados internos da Ásia serão duas vezes maiores que o dos EUA.
A classe média do planeta terá engordado de 1 bilhão para 3 bilhões de consumidores.
As oportunidades de crescimento que essa demanda mundial propiciará na Europa e nos EUA são imensas. Mas nem Europa nem EUA estão em posição forte o suficiente para tirar vantagem desses novos mercados. O Ocidente precisa começar de novo a superar o restante do mundo em termos de inventividade, inovação e capacitação.
O plano de Obama poderia servir como pedra fundamental para um acordo em escala mundial que produziria altos níveis de crescimento em todos os quadrantes do planeta e milhões de empregos.
Sob um acordo como esse, a Europa se uniria aos EUA na elevação dos níveis de investimento complementando a iniciativa "lunar" norte-americana com um programa de reforma estrutural cujo objetivo seria construir uma economia digital, ecológica e de uso eficiente de energia, com alto nível de competitividade, enquanto a China desempenharia seu papel por meio de uma elevação no consumo interno.
Um acordo como esse poderia propiciar 3% de crescimento à economia mundial em 2014, tirando 100 milhões de pessoas da pobreza.
Apresentei esse plano quando presidi a conferência de cúpula do G20 em Londres, em 2009. Queria que Ocidente e Oriente assumissem o compromisso de seguir uma estratégia formal que propiciaria resultados mais duradouros que os prometidos pelos pacotes de resgate que montávamos naquele momento.
Não foi possível chegar a um acordo. Desde então, Europa e EUA vêm crescendo bem abaixo de sua capacidade e o desemprego subiu a cerca de 10% nessas economias.
A China já estabeleceu as fundações para desempenhar seu papel: a política de reduzir a pobreza e expandir a classe média deve criar um mercado para bilhões de dólares em bens e serviços ocidentais.
O Ocidente deveria propor que, se o consumo chinês crescer 2% a 4% do Produto Interno Bruto do país ao longo dos próximos três anos, EUA e Europa expandirão seus investimentos públicos por montante semelhante. Caso outros países asiáticos façam o mesmo, e estabeleçam condições de acesso igual para exportadores, seria possível criar cerca de 50 milhões de empregos.
Um estudo recente do Fundo Monetário Internacional produziu provas de que podemos manter planos de redução de deficit enquanto nos beneficiamos do capital de investimento adicional necessário às economias dos EUA e Europa.
Minha extrapolação do modelo do FMI demonstra que os países ocidentais poderiam elevar o crescimento do PIB significativamente ao elevar seu nível de capital de investimento por três anos. Gastos de estímulo anuais da ordem de 0,3% do PIB propiciariam retorno de 0,8% de crescimento nos EUA, no pico do estímulo, em 2013; na Europa, o crescimento adicional seria 0,4%.
A extraordinária força de trabalho do Ocidente não deveria ser condenada a viver sob políticas que produzirão deliberadamente uma década de crescimento lento e desemprego elevado. Seria uma tragédia humana, e não apenas um desastre econômico.

GORDON BROWN foi primeiro-ministro (2007-2010) e secretário das Finanças (1997-2007) do Reino Unido. Este artigo foi distribuído pelo Project Syndicate.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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