São Paulo, quarta-feira, 06 de abril de 2011

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ANÁLISE COMBUSTÍVEIS

Preço alto reflete necessidade de reavaliar incentivos ao etanol

THAÍS MARZOLA ZARA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O aumento dos preços do etanol da fase de entressafra deste ano surpreendeu pela magnitude e pela abrangência. Nas últimas semanas, o litro chegou a custar R$ 2,30 na capital paulista.
Apenas em março, os preços do etanol subiram 11% e o combustível deixou de ser competitivo ante a gasolina em todos os Estados.
Vale lembrar que o poder calorífico do etanol equivale a apenas 70% do da gasolina, de forma que seu preço, para estimular o consumo, deve ficar igual ou abaixo de 70% desta última.
Neste ano, aliás, o governo não alterou a participação do etanol na gasolina, movimento usual nas épocas de entressafra, porque os estoques não seriam suficientes para atender a demanda caso o etanol continuasse numa faixa de preço competitiva diante da gasolina.
Na crise de 2008, as usinas foram pegas no contrapé do ciclo de investimentos: altamente endividadas, num mundo em que os preços de commodities em geral caíram muito e no qual o preço de venda acabou ficando abaixo do de custo.
Não só isso: refinanciar a dívida tomada para investir tornou-se muito mais caro e difícil.
Descapitalizado, o setor suspendeu investimentos e, mais do que isso, vem direcionando a produção ao açúcar desde 2009, quando uma quebra de safra na Índia tornou a produção da commodity agrícola um negócio muito mais lucrativo do que a produção do combustível.
Por trás dessa perda de lucratividade do etanol está um dos grandes problemas do setor: a compressão da margem de lucros.
De um lado, os preços do produto final são limitados pelo principal concorrente, a gasolina, cujo preço é mantido inalterado por largos períodos de tempo pela Petrobras (mesmo diante da alta expressiva no mercado internacional, como a observada agora, quando o barril do tipo Brent custa em torno de US$ 120), e, de outro, os custos crescentes de produção.
É fácil perceber o resultado perverso desse jogo: poucos incentivos à produção e ao investimento, ao lado de demanda crescente devido ao aumento das vendas dos veículos flex.
Em síntese, o setor passa por uma crise que evidencia a necessidade de repensar a política de incentivos, bem como de regulação de preços e de estocagem.
As propostas em estudo pelo governo federal incluem o financiamento adequado para a construção e a ampliação de usinas, além de esforços para a desoneração de distribuidores e de produtores rurais.
Não obstante, a prioridade deve ser aumentar a competitividade do combustível ante a gasolina, se a intenção é continuar incentivando a alteração da frota veicular na direção dos carros flex.

THAÍS MARZOLA ZARA é economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados e mestre em economia pela USP.
Internet: www.rosenberg.com.br


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