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Banda (quase) larga
Governo montou plano que tenta massificar uma internet lenta e que deve virar alvo de contestação na Justiça
DE SÃO PAULO
DO RIO
O Plano Nacional de Banda Larga, lançado em maio,
provocou um embate entre o
governo e as empresas de telefonia fixa e móvel.
O plano propõe conectar
30 milhões de brasileiros à
internet em cinco anos com
velocidade superior a 512
Kbps (kilobits por segundo).
Mas, de partida, o país já
se coloca uma geração tecnológica atrás dos outros que se
propuseram a lançar um programa de acesso à internet.
Nos EUA, a proposta é garantir velocidade de 100
Mbps (megabits por segundo). Outros países, como Japão e Austrália, avançam na
mesma direção, prometendo
velocidade 20 vezes superior
à do plano brasileiro.
Para gerenciar essa oferta
no país, o governo federal
reativou a Telebrás, sob o argumento de que as teles não
têm interesse de levar a internet a lugares distantes e com
população de baixa renda.
Para o governo, as operadoras privadas levariam tempo demais para amortizar os
investimentos nessas localidades, onde a previsão de receita é baixa.
Por isso, o plano prevê que
a União levará a internet onde hoje ela não existe. Em
contrapartida, as teles perderão os contratos com órgãos
públicos (municipais, estaduais e federais).
Hoje essas contas garantem ao caixa das operadoras
R$ 20 bilhões por ano.
As teles já estudam formas
de entrar na Justiça acusando o governo de mudar as regras do jogo, definidas após a
privatização do setor pela Lei
Geral de Telecomunicações.
Para elas, não há respaldo
legal para recriar a Telebrás.
Isso porque as operadoras
atuais (antigas subsidiárias
da estatal) foram vendidas
na privatização do setor -o
que seria um golpe contra a
segurança jurídica no país.
Além disso, elas dizem que
ainda não está claro se a Telebrás irá competir com elas
sob as mesmas condições.
TRIBUTOS
Não se sabe, por exemplo,
se a estatal pagará os mesmos impostos ou se arrecadará contribuições para fundos setoriais. Caso opere sem
essas obrigações, ficaria
muito mais competitiva.
A reativação da Telebrás
também levantou suspeitas
sobre o plano. Em fevereiro, a
Folha revelou o envolvimento do ex-deputado José Dirceu, que recebeu por consultoria prestada a um dos sócios da Eletronet, empresa
cuja rede de fibras ópticas será utilizada pela Telebrás.
Antes de o plano ser anunciado, as ações da Telebrás se
valorizaram em 35.000%,
entre janeiro de 2003 e fevereiro de 2010. Resultado: a
CVM (Comissão de Valores
Mobiliários) está investigando o vazamento de informação privilegiada ao mercado.
(JULIO WIZIACK E ELVIRA LOBATO)
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