São Paulo, terça-feira, 06 de julho de 2010

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Inco era insustentável, afirma Agnelli

Presidente da Vale diz que trabalhador de empresa canadense ganhava bônus pelo preço do níquel, e não pelo resultado

Fazer greve era interessante, diz; Inco foi comprada pela Vale, e funcionários estão parados há um ano

Rafael Andrade/Folhapress
O presidente da Vale, Roger Agnelli, durante entrevista na sede da mineradora, no Rio

MARIA CRISTINA FRIAS
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

"Fazer greve era interessante", diz Roger Agnelli, presidente da Vale, em entrevista exclusiva, em relação à greve de funcionários da Inco, empresa adquirida pela companhia no Canadá.
Agnelli comenta ainda sobre cobranças do presidente Lula durante a crise e sobre siderurgia. Leia a seguir trechos da entrevista, feita na sede da Vale, no Rio, antes do anúncio da tentativa de acordo com a United Steelworkers para a suspensão da greve no Canadá.

 


Situação no Canadá
Aquela comunidade vivia exclusivamente em razão da Inco. E a Inco vivia exclusivamente quase em cima daquele ativo. Só que foram criadas algumas condições que não são sustentáveis.
O que propusemos ao sindicato é uma condição que a gente usa na Vale. Quando a Vale foi privatizada, nós mudamos o plano, de fundo de pensão de benefício definido para contribuição.
Respeitamos todos os passados, só mudamos o para a frente. No Canadá, também estamos respeitando todos os que estavam no sistema antigo. Outra questão era o níquel bônus. Eles ganhavam bônus em função do preço do níquel na LME (London Metal Exchange), e não do resultado da companhia.
Então, olha que loucura, fazer greve era interessante. Como a Inco era a maior produtora de níquel do mundo, entrava em greve, e o que acontecia com o preço do níquel? Subia. O que acontecia com o trabalhador no final do ano? Ganhava o bônus, e a empresa no prejuízo.
Por isso compramos a Inco, porque era insustentável a condição em que estava.
Mas, quando compramos, fizemos um acordo com o governo canadense e tudo o mais, de manter as condições, por pelo menos três anos, razoavelmente iguais, sendo que o acordo dos trabalhadores da US Steel havia acabado de ser assinado e nós mantivemos. Esse acordo expirou...

Câmbio
O nome do jogo e não é desvalorização cambial, é inovação: "Ah, a mineração é cavar e fazer". Não, não é não, vai lá ver o que é. Cada mina que você abre é um ser diferente e você tem que ter um processo específico para aquela mina e bilhões de dólares para investir em logística também. O sucesso da Vale está nos portos mais eficientes do mundo que temos, Tubarão, Ponta da Madeira.

Eike Batista critica a Vale, entre os outras razões, por não investir em porto o suficiente.
O Eike? Deixa ele produzir primeiro, depois ele fala alguma coisa, depois ele vai ver como é que é.

Pressão do presidente
O presidente é um desenvolvimentista. Ele é, por natureza, absolutamente pragmático, ele joga junto. Em Moçambique, a atuação dele foi importantíssima.
Eu acho que sim [passou a pressão de Lula]. Um dos setores que mais sofreram foi siderurgia, foi mineração, porque vende para a siderurgia. Nós sofremos demais.
Olha, a gente produz 1 milhão de toneladas por dia. Onde você coloca 1 milhão de toneladas? Você pode colocar dez dias, 20 dias, você não coloca 30 dias. Não tem pátio no Brasil ou porto ou na mina que você consegue armazenar 30 milhões de toneladas. Não tem.
Tivemos que fazer os ajustes que tinham que ser feitos, não tinha por onde não fazer.
Fizemos, não me arrependo de ter feito, não, porque a Vale está num momento maravilhoso.


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