São Paulo, terça-feira, 06 de setembro de 2011

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VINICIUS TORRES FREIRE

Queda nos juros "pra valer"


Juro baixo terá 'apoio' de medidas como contenção de salários de servidores e alterações na poupança

"A MÍDIA e o mercado erraram sobre o ajuste fiscal que o governo Dilma fez neste ano, erraram sobre os juros, vão errar sobre a inflação e sobre o ajuste fiscal de 2012", diz ao telefone um integrante do governo que circula muito bem pelo Planalto, mas não é economista.
O assessor com cargo relevante está especialmente irritado com "o coro dos juros altos, cantado em conjunto pela mídia conservadora e por parte do mercado". Reclama que, no início do ano, quando o governo anunciou o corte de R$ 50 bilhões do Orçamento, o descrédito era geral. "Mas o governo entregou [o corte de gastos prometido]", segundo o assessor. Uhm.
Para ser mais preciso, o governo prometeu cortar um Orçamento inflado de modo irresponsável pelo Congresso. No ano, os gastos federais cresceram até agora uns 4%, a um terço da velocidade do aumento da receita. De certo modo, é um sucesso. A esta mesma altura do ano passado, o governo estava gastando todo o aumento de receita. Ainda assim, a despesa deve crescer mais do que o PIB neste 2011.
Mas o pessoal do governo quer mesmo é dizer que "virão mais mudanças". O Banco Central poderá contar com a "ajuda" do governo, que apertaria ainda mais a despesa em 2012 e lançaria "reformas" para que o país "conviva de modo sustentável" com juros menores.
Ou seja, pelo menos uma parte do governo liga para dizer que há uma política coordenada de corte de despesas federais e de taxas de juros. Isto é, haverá cumprimento da "meta cheia" do superavit primário (o governo pouparia uns 3,1% do PIB de sua receita de impostos, até o final do governo Dilma). O deficit nominal (que inclui a conta de juros) chegaria perto de zero.
O Banco Central, então, teria condições de continuar o programa de corte de juros iniciado surpreendentemente na quarta-feira passada.
"Estaria para sair" a limitação do aumento anual de gastos com salários dos servidores "abaixo do PIB". Viria também a mudança na taxa de juros que remunera os depósitos em cadernetas de poupança.
Os juros da poupança estabelecem um piso para a taxa de juros no país: se o piso permanecer e a taxa básica de juros cair muito, haveria a situação absurda e insustentável de ninguém querer emprestar para o governo, preferindo a poupança.
Como vai ser a mudança na remuneração da poupança? Isso é assunto para o ano que vem, "mas virá". Uhm. Em 2009, o governo Lula chegou a elaborar um projeto de redução "indireta" dos juros da poupança. Tributava correntistas com saldos maiores, deixava na mesma o rendimento dos mais pobres.
O projeto era um remendo, e difícil de entender. Mas necessário. A oposição porém começou a fazer demagogia populista sobre o "confisco da poupança" e, no fim das contas, os juros não caíram como se imaginava. Adiou-se a conversa.
Enfim, dá para acreditar nas "mudanças" que dariam esteio à queda dos juros, como corte de gastos? O mesmo assessor conta, por exemplo, que o governo pretende reduzir impostos para certos setores empresariais. Mas, no curto prazo, é muito difícil ter deficit menor e reduzir impostos simultaneamente.
Além do mais, a cada semestre ou em cada momento crítico da economia brasileira ou mundial, o governo faz promessas de mudanças.

vinit@uol.com.br


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