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CRÍTICA HISTÓRIA
Crise ambiental é mais grave que a financeira, diz francês
Estudioso resume a história econômica e propõe uma revolução ecológica
RAFAEL CARIELLO
EDITORIALISTA DA FOLHA
Na algaravia de interpretações e obras de divulgação
econômica que se seguiu à
crise de 2008 e 2009, "A Prosperidade do Vício", de Daniel
Cohen, se destaca.
O leitor interessado nos
meandros das inovações do
"shadow banking system"
ou no debate sobre as razões
últimas da crise deve procurar outro livro na estante.
A "débâcle" financeira
suscitou uma curiosidade
maior sobre o funcionamento e a história da economia, e
é nesse contexto que se insere "A Prosperidade do Vício".
Mas não é exatamente do último ciclo de crescimento e
recessão que se ocupa a obra.
O professor da École Normale Supérieure prefere dar
um passo atrás -ou vários-
e inserir o momento atual em
uma análise de longa duração histórica.
Longuíssima duração, na
verdade. A ambição do pequeno volume é narrar uma
história econômica da humanidade que começa antes
mesmo da invenção da agricultura -ocorrida, nas palavras irônicas do autor, "há
apenas 10 mil anos".
Mas que chega, em menos
de 200 páginas, ao "novo capitalismo financeiro" das últimas décadas e à impressionante ascensão chinesa.
Cohen procura demarcar
momentos decisivos nesse
arco de tempo gigantesco. E
apresenta ao leitor a lógica e
os argumentos das diferentes
explicações teóricas que cada um deles suscitou.
O que veio antes: o sedentarismo ou a agricultura? O
autor não responde à pergunta de forma definitiva,
mas descreve instigantes
modelos especulativos que
defendem a precedência de
um ou de outro.
Outro marco divisório aparece no final do século 18,
com a superação da "lei de
Malthus". Até o advento da
Revolução Industrial, o crescimento econômico engendrava seus próprios limites.
O aumento da população
dele decorrente não era
acompanhado de ganhos similares na produtividade da
agricultura. Uma fração
maior de pessoas se alimentava mal. Fome, doenças e
guerras reduziam novamente o contingente populacional, a capacidade de produzir e o crescimento.
NOVO LIMITE
Desde o século 19, esse limite foi superado. A indústria e ganhos de produtividade inéditos na agricultura se
espalharam pelo mundo.
Mas o espectro de um teto ao
crescimento volta a rondar a
humanidade, segundo a narrativa de Cohen.
A "crise ecológica", a impossibilidade de "a riqueza
saída das entranhas do planeta" ser multiplicada para
atender ao crescente nível de
consumo em países como
China e Índia impõem restrições, diz o autor.
Cohen compara esse possível limite futuro com a longa vigência da "lei de Malthus". Teria sido esse breve
intervalo de dois séculos de
crescimento desimpedido,
desde a Revolução Industrial, uma exceção? Ou uma
mudança definitiva de padrão? O autor não responde.
A PROSPERIDADE DO VÍCIO
AUTOR Daniel Cohen
TRADUÇÃO Wandyr Hagge
EDITORA Zahar
QUANTO R$ 34 (200 págs.)
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