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Greve faz BBC pôr executivo no lugar de apresentador
Profissionais da principal rede de canais de TV e de rádio do país pararam contra alterações nos benefícios
VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES
Os britânicos tiveram ontem a rotina alterada não por
mais uma greve do metrô (já
foram três neste ano em Londres), mas pela paralisação
dos jornalistas da BBC, principal rede de canais de televisão e de rádio do país.
O programa de rádio de
maior audiência na manhã,
"Today", não foi ao ar. Assim
como o "Breakfast", da TV.
Ao longo do dia, reprises,
suspensão de programas e
menos atualizações no canal
de notícias 24 horas.
A greve foi engrossada por
apresentadores famosos da
TV. É como se Sandra Annenberg ou o casal William Bonner e Fátima Bernardes aderissem a uma greve na Globo
e não apresentassem seus telejornais.
O sindicato dos jornalistas, que representa cerca de
4.000 profissionais na BBC,
programou a greve por 48 horas em protesto contra as reformas no plano de aposentadorias. Considerado muito
melhor do que os oferecidos
na iniciativa privada, o sistema está com deficit de 1,7
bilhão (pouco mais de R$ 7
bilhões).
MUDANÇAS
Para reduzi-lo, a corporação propôs algumas mudanças: o funcionário não se
aposentaria mais com o último salário integral, mas com
uma média das últimas remunerações; os reajustes
anuais ficariam limitados a
1%, num país com previsão
de 3% de inflação neste ano.
Os sindicatos que representam cerca de 80% dos
funcionários da BBC aceitaram. O dos jornalistas, não.
Apesar da adesão de muitos, alguns não esconderam
a irritação. No final do programa de quinta-feira à noite, o apresentador Jeremy
Paxman disse: "E amanhã...
Não tenho a mínima ideia do
que vai acontecer amanhã".
Para que alguns programas fossem ao ar, até executivos da emissora foram para
os microfones ou para a frente das câmeras.
CORTES
Além da questão das aposentadorias, a BBC terá que
anunciar cortes de programas e de funcionários para
fechar seu orçamento.
A corporação, que inclui
TV, rádio e internet, é sustentada com uma taxa anual paga por todas as pessoas no
Reino Unido que possuem
TV em casa.
O governo decidiu que essa taxa ficará fixada em
145,50 (cerca de R$ 390) por
seis anos, sem correção nem
pela inflação.
Além disso, caberá à BBC
arcar com os custos do Serviço Mundial -notícias divulgadas por rádio, TV e internet
em 32 línguas para vários
países, como o Brasil.
O Serviço Mundial custa
272 milhões por ano (R$ 730
milhões). Esse dinheiro sai
hoje do Ministério do Exterior.
O serviço foi criado nos
anos 30 do século passado,
quando o Reino Unido ainda
era um império e queria manter sua influência em todo o
mundo.
A greve também atingiu o
Serviço Mundial. Segundo
dados do sindicato, cerca de
80% não trabalharam. A BBC
Brasil não foi afetada.
Uma nova greve dos jornalistas está marcada para os
dias 15 e 16 deste mês.
CRÍTICAS
Este tem sido um ano difícil para a BBC. Muitos jornais
e membros do governo criticam os altos salários pagos a
alguns executivos e apresentadores.
O diretor-geral da empresa, Mark Thonpson, recebeu,
em 2009, 788 mil, incluindo fundo de pensão (cerca de
R$ 2 milhões).
Esse valor equivale a 5,5
vezes o que ganha o primeiro-ministro do Reino Unido,
David Cameron.
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