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Folhainvest
Consumidor busca ajuda para lidar com compulsão
Com crédito fácil e acessível, cresce número de pessoas que procuram tratamento para consumo descontrolado
Hábito progressivo de comprar e se endividar descontroladamente
é doença incurável chamada oneomania
MARIANA SCHREIBER
DE SÃO PAULO
O aumento da acessibilidade ao crédito nos últimos
anos representa um grande
risco para algumas pessoas.
São os consumidores compulsivos, que compram e se
endividam sem necessidade.
Com a maior variedade de
meios de financiamento, o
perfil dos compradores compulsivos que buscam tratamento no Hospital das Clínicas e no grupo de autoajuda
Devedores Anônimos (DA)
está mudando.
Nos últimos dois anos,
cresceu o número de pessoas
de baixa renda que acumulam débitos descontroladamente, afirma Mandel, que
não quis ter seu nome todo
revelado, assim como outros
entrevistados.
Mandel é um dos fundadores do DA Santa Ifigênia, na
região central de São Paulo.
A oferta facilitada de crédito também aumentou o número de dívidas por pessoa,
avalia a psicóloga Tatiana Filomensky, coordenadora do
grupo de tratamento de compradores compulsivos do
Hospital das Clínicas.
"Antes, os pacientes chegavam com uma dívida. Hoje
são várias. E mesmo quem
está inadimplente, com o nome sujo, consegue novos empréstimos", afirma.
Esse tipo de comportamento é considerado uma
doença incurável e progressiva -a oneomania. E os itens
objetos de compulsão são os
mais variados: celulares, livros, perfumes, comida, ferramentas, qualquer coisa.
RISCOS
Quando Gilson, 42, recebeu seu primeiro salário, aos
14, ele já estava endividado.
Assim que começou a trabalhar, passou a contrair dívidas em lojas de amigos.
Quando completou 18, teve acesso a cartões, cheque
especial e crédito consignado. Suas dívidas cresceram e
chegaram ao que equivaleria
atualmente a R$ 70 mil, calcula. O valor superava em
mais de 20 vezes seu salário
como funcionário público.
Quando essas fontes se fecharam, ele recorreu a parentes e, até mesmo, a um agiota, que o ameaçou de morte.
As dívidas acabaram trazendo problemas de relacionamento. "As pessoas perdem a confiança."
Há sete anos, Gilson frequenta o DA. Hoje ele consegue controlar a doença, embora o desejo de comprar
nunca termine. Sua mulher é
quem controla suas finanças.
"Nos últimos dois anos,
comprei mais de dez celulares. Tenho desejo de comprar
a toda hora", afirma.
Gilson diz que agora toma
crédito de forma planejada.
Ele tem uma casa e um carro
financiados. Antes, lembra,
gastava, mas não acumulava
bens. "Hoje sou outra pessoa", comemora.
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