São Paulo, segunda-feira, 07 de junho de 2010

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Folhainvest

Consumidor busca ajuda para lidar com compulsão

Com crédito fácil e acessível, cresce número de pessoas que procuram tratamento para consumo descontrolado

Hábito progressivo de comprar e se endividar descontroladamente é doença incurável chamada oneomania

MARIANA SCHREIBER
DE SÃO PAULO

O aumento da acessibilidade ao crédito nos últimos anos representa um grande risco para algumas pessoas. São os consumidores compulsivos, que compram e se endividam sem necessidade.
Com a maior variedade de meios de financiamento, o perfil dos compradores compulsivos que buscam tratamento no Hospital das Clínicas e no grupo de autoajuda Devedores Anônimos (DA) está mudando.
Nos últimos dois anos, cresceu o número de pessoas de baixa renda que acumulam débitos descontroladamente, afirma Mandel, que não quis ter seu nome todo revelado, assim como outros entrevistados.
Mandel é um dos fundadores do DA Santa Ifigênia, na região central de São Paulo.
A oferta facilitada de crédito também aumentou o número de dívidas por pessoa, avalia a psicóloga Tatiana Filomensky, coordenadora do grupo de tratamento de compradores compulsivos do Hospital das Clínicas.
"Antes, os pacientes chegavam com uma dívida. Hoje são várias. E mesmo quem está inadimplente, com o nome sujo, consegue novos empréstimos", afirma.
Esse tipo de comportamento é considerado uma doença incurável e progressiva -a oneomania. E os itens objetos de compulsão são os mais variados: celulares, livros, perfumes, comida, ferramentas, qualquer coisa.

RISCOS
Quando Gilson, 42, recebeu seu primeiro salário, aos 14, ele já estava endividado. Assim que começou a trabalhar, passou a contrair dívidas em lojas de amigos.
Quando completou 18, teve acesso a cartões, cheque especial e crédito consignado. Suas dívidas cresceram e chegaram ao que equivaleria atualmente a R$ 70 mil, calcula. O valor superava em mais de 20 vezes seu salário como funcionário público.
Quando essas fontes se fecharam, ele recorreu a parentes e, até mesmo, a um agiota, que o ameaçou de morte.
As dívidas acabaram trazendo problemas de relacionamento. "As pessoas perdem a confiança."
Há sete anos, Gilson frequenta o DA. Hoje ele consegue controlar a doença, embora o desejo de comprar nunca termine. Sua mulher é quem controla suas finanças.
"Nos últimos dois anos, comprei mais de dez celulares. Tenho desejo de comprar a toda hora", afirma.
Gilson diz que agora toma crédito de forma planejada. Ele tem uma casa e um carro financiados. Antes, lembra, gastava, mas não acumulava bens. "Hoje sou outra pessoa", comemora.


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