São Paulo, domingo, 07 de agosto de 2011

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A GUERRA DAS CARNES

Com preços mais elevados, grande varejo perde vendas e abre espaço para os açougues, que, modernizados, ressurgem; supermercados dizem levar desvantagem tributária

TATIANA FREITAS
DE SÃO PAULO

Com preços mais competitivos do que os grandes supermercados, os açougues ganham mercado e vivem uma fase de "renascimento".
Protagonistas do comércio de carnes até os anos 80, os açougues passaram por uma forte crise na década de 90, quando o número de estabelecimentos caiu para menos da metade em São Paulo.
Segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Carnes Frescas do Estado de São Paulo, a quantidade de lojas na capital chegou ao piso de 2.200 na pior fase da crise, em relação ao auge de 5.000.
Problemas sanitários e mudanças no perfil do consumidor levaram muitos açougues a fechar suas portas.
"Agora está havendo uma recuperação", diz Manuel Ramos, presidente do sindicato, que estima o número de açougues em 2.800 hoje em São Paulo.
Levantamento da Folha feito na Junta Comercial do Estado de São Paulo e no "Diário Oficial" mostra aumento no número de açougues abertos a partir de 2009 -nos últimos 12 meses, foram 283.
O aumento da comercialização de carne com osso -vendida quase exclusivamente para os açougues, pois os supermercados normalmente compram carne já desossada- é outro sinal da retomada do segmento.
As carnes com osso, que em 2009 representavam cerca de 30% das vendas dos frigoríficos, hoje estariam perto de 50% do total, segundo estimativas do mercado.
A Abras (Associação Brasileira dos Supermercados) estima que as vendas de carne bovina caíram de 15% a 20% nas redes desde outubro de de 2009, quando foi suspensa a cobrança de 9,25% de PIS e Cofins paga pelos frigoríficos nas vendas de carne.
Essa mudança tributária, segundo a entidade, explica a diferença entre os preços praticados nos supermercados e nos açougues.
Segundo Tiaraju Pires, superintendente da Abras, a desoneração dos frigoríficos prejudicou o grande varejo.
Antes, os supermercados tinham um crédito de 9,25% para abater do valor da compra e pagavam os impostos só sobre a margem de lucro.
Após a mudança, passaram a contar com um crédito presumido de 3,7%, o que resultaria em aumento de 6% no custo líquido.
"Para um produto que é operado com margem extremamente baixa, os supermercados precisam fazer uma engenharia para manter a rentabilidade", afirma Pires.
Já os açougues, como se enquadram no perfil de micro e pequenas empresas, pagam uma alíquota de PIS e Cofins de até 2% sobre o valor de venda da carne.
A Abras pede ao governo, desde 2009, desoneração de toda a cadeia, sem sucesso.
Para Ramos, o renascimento dos açougues deve-se à sua adequação à nova realidade do mercado, das condições de higiene ao atendimento personalizado. "Alguém tem de fazer o papel da dona de casa, que agora está no mercado de trabalho", diz.


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