São Paulo, sábado, 08 de janeiro de 2011

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Inflação de 5,9% é a maior em 6 anos e afeta mais os pobres

Cenário global de demanda em alta e forte especulação com commodities tornam contenção de preços mais difícil em 2011

Preços de alimentos voltam ao nível de 2008, quando mundo teve protestos em países pobres contra inflação

FERNANDO CANZIAN
DE SÃO PAULO

O índice oficial de inflação no Brasil ultrapassou o centro da meta estipulada pelo Banco Central para 2010 e fechou o ano passado com a maior alta em seis anos.
Para 2011, a expectativa permanece sombria. Há um cenário de aceleração dos preços de commodities agrícolas e minerais, além do petróleo, em todo o mundo.
O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 5,91% no ano passado. A meta do BC era de 4,5%, com intervalo de dois pontos para mais ou para menos.
Os mais pobres perderam mais. O INPC, que abrange famílias com renda entre 1 e 6 salários mínimos, subiu 6,47% (0,56 ponto a mais).
O vilão da inflação de 2010 foi a alimentação, em que os mais pobres comprometem a maior parte da sua renda.
Nesse grupo, os preços subiram quase o dobro da média geral: 10,4%.
Mas a aceleração de 2010 foi bastante pontual, concentrada no último trimestre e em poucos produtos, como carnes e feijão. Retirados esses dois itens do cálculo, a inflação do ano passado teria estacionado perto de 5%.

INFLAÇÃO GLOBAL
A virada de 2010 para 2011 trouxe como novidade uma aceleração da inflação em todo o mundo, de alimentos a produtos minerais.
Na semana passada, a ONU anunciou que seu índice mensal de preços de alimentos ultrapassou o pico de junho de 2008.
Naquele mês, pouco antes do início da crise financeira que levou à Grande Recessão de 2008/2009, o mundo assistiu a dezenas de protestos, do Egito a Bangladesh, contra a inflação de alimentos.
Desta vez, além da recuperação da demanda global, especialmente entre emergentes populosos como China, Índia e Brasil, os preços das commodities agrícolas e minerais sobem na esteira da especulação financeira.
É um movimento parecido ao que vem levando à valorização do real no Brasil.
Por conta da baixa atividade interna, os países ricos (os EUA em especial) reduziram quase a zero o juro que pagam a investidores que queiram comprar seus títulos.
Ao mesmo tempo, o BC dos EUA inundou o mercado com dólares (serão US$ 600 bilhões neste primeiro semestre, além do US$ 1,7 trilhão de 2009) para estimular os bancos a emprestar mais, aquecendo a economia.
Bancos e investidores, porém, tomam esses recursos a custo quase zero e, em vez de emprestar a terceiros, especulam em países como o Brasil (daí a entrada recorde de dólares), índices de preços baseados em commodities (elevando os preços) e outros ativos reais, como ações.
"Movida pela demanda global e pela especulação, a inflação é a grande preocupação para 2011", avalia José Márcio Camargo, da PUC-RJ e da Opus Consultoria.
Esses dois fatores levaram as commodities agrícolas a subir cerca de 60% na segunda metade de 2010. O petróleo, 40% no ano.
Por conta da especulação, alguns preços já atingiram níveis próximos a 2008, sem que a atividade econômica global ainda tenha chegado ao mesmo patamar.
Sérgio Mendonça, economista do Dieese (que calcula a cesta básica em 17 capitais), diz que a inflação tem sido "mais malvada" com os mais pobres nos últimos quatro anos, período em que os alimentos subiram mais.
A cesta básica paulistana, por exemplo, aumentou 16% em 2010 (até novembro). Já o valor do salário mínimo pode ter correção de apenas 6%.


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