São Paulo, quarta-feira, 08 de junho de 2011

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ANÁLISE ENERGIA

Para a oferta de etanol aumentar, é preciso reduzir os custos

THAÍS MARZOLA ZARA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os problemas de abastecimento de etanol no início deste ano deveram-se, em parte, a problemas pontuais, mas também a fatores estruturais.
A origem dos atuais problemas enfrentados pelo setor se deu durante a crise de 2008, quando os produtores encontravam-se altamente endividados.
Os recursos estrangeiros que entraram no país desde então, direcionados ao setor, têm sido utilizados fundamentalmente para a consolidação (fusões e aquisições) dos grupos existentes.
Dessa forma, a produtividade do setor recuou bastante -apesar de a área plantada ter crescido 20% nos últimos quatro anos, a produção avançou apenas 12,5%, prejudicada pelo envelhecimento das lavouras.
Aliás, a renovação das lavouras, que ocorria na faixa de 16,5% a 18% ao ano, recuou para apenas 4,5% após a crise -como resultado, lavouras que deveriam ter sido renovadas no sexto corte já estão no 12º corte.
Agora que as empresas já estão razoavelmente capitalizadas -embora ainda exista espaço para a continuidade do processo de consolidação-, resta saber quais serão os determinantes de expansão de investimentos no futuro.
Usualmente, o preço de mercado é a sinalização balizadora desse tipo de decisão. Contudo, no caso do etanol há um preço máximo estabelecido -70% do preço da gasolina, que é definido pela Petrobras (e que evita repassar aos preços internos as oscilações dos preços no mercado internacional, bem como da taxa de câmbio).
Com isso, se os custos (incluídos aí a margem de lucro do produtor, ou custo de oportunidade) forem superiores ao preço máximo, não há por que ampliar a produção.
Hoje, estamos muito próximos desse limiar de preço, como mostram as oscilações fortes que o levam a patamares muito superiores no período de entressafra.
Não é por outro motivo que as propostas em estudo visam a redução dos custos do setor: financiamento via crédito mais barato do BNDES para investimentos; ampliação e aprimoramento da infraestrutura de escoamento; e, por fim, redução da alíquota de tributos (federais e estaduais) que incidem sobre o etanol.
Fica claro que a mera alteração do status de etanol a combustível (e, portanto, sua sujeição a regulamentações impostas pela ANP) ou a simples alteração do percentual de etanol adicionado à gasolina não são suficientes.
O planejamento de longo prazo para um setor privado, quando esse é de interesse do governo, precisa necessariamente passar pela ampliação dos incentivos econômicos.

THAÍS MARZOLA ZARA é economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados e mestre em economia pela USP.


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