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OPINIÃO
Quando acabar a farra, o que sobrará da indústria?
JOSÉ RICARDO RORIZ COELHO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Quem não gosta de ver as
prateleiras carregadas de importados, tomar um bom vinho francês, comprar um
carro importado, levar a meninada para a Disney? A
grande maioria dos brasileiros acredita que a crise pegou
no contrapé quase todos os
países, menos o Brasil.
O governo continua gastando, e o presidente, popular, acha que é adequada a
nossa carga tributária, mesmo sabendo que não temos
infraestrutura adequada e
que os serviços prestados pelo governo são de péssima
qualidade. Sem falar nos custos de energia e petróleo.
Mas, quando passar tudo
isso, o que terá sobrado da
indústria brasileira?
A indústria, embora estagnada desde meados dos anos
1990, ainda é o principal motor da expansão econômica.
Isso porque, enquanto é necessário um crescimento de
1,14% do setor de serviços
para fazer a economia avançar 1%, basta um crescimento de 0,66% da indústria de
transformação para obter o
mesmo resultado.
O problema é que o Brasil
apresenta claros sinais de desindustrialização precoce,
embora alguns debochem
desse termo, ou seja, experimenta redução da participação da indústria no PIB sem
que tenha atingido níveis de
renda per capita mais elevados como o que se verificou
nos países desenvolvidos.
Essa queda da participação industrial no PIB foi mais
acentuada no início dos anos
1990, quando ocorreu a
abrupta liberalização comercial e financeira em ambiente
macroeconômico e institucionalmente instável.
A ausência de condições
estruturais e sistêmicas favoráveis à realização de investimentos em nova capacidade
produtiva e em atividades de
pesquisa e desenvolvimento,
de maior prazo de maturação, fez a participação da indústria no PIB se reduzir a
menos da metade de 1985 para 2009, respectivamente de
35,9% para 15,5%.
É verdade que a política
macroeconômica de estabilização monetária foi acertada. Crescemos a uma taxa
anual média nos últimos cinco anos maior que a média
das duas décadas anteriores.
OBSTÁCULOS
Mas importantes obstáculos ao crescimento precisam
ser enfrentados se quisermos
fazer crescer rápida e continuamente a renda e o emprego nos próximos anos.
Aspectos tais como carga
tributária, juros/"spread",
câmbio, burocracia e corrupção, que desestimulam os investimentos industriais, representam fortes restrições
ao nosso desenvolvimento.
Deve-se parar de achar
que as reivindicações da indústria sejam lamúrias para
obter proteção ou subsídio. A
questão é outra. Queremos
isonomia de condições para
competir em mercados globalizados e, tendo claro o
nosso papel, o de motor do
desenvolvimento, temos
consciência da importância
que a indústria tem para a geração de emprego, da renda e
do bem-estar de todos.
Mas, afinal, quem não gosta de uma boa farra? Pena
que é sempre acompanhada
de uma grande ressaca.
JOSÉ RICARDO RORIZ COELHO é diretor
titular do Departamento de
Competitividade e Tecnologia da Fiesp.
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