São Paulo, quinta-feira, 08 de julho de 2010

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OPINIÃO

Quando acabar a farra, o que sobrará da indústria?

JOSÉ RICARDO RORIZ COELHO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quem não gosta de ver as prateleiras carregadas de importados, tomar um bom vinho francês, comprar um carro importado, levar a meninada para a Disney? A grande maioria dos brasileiros acredita que a crise pegou no contrapé quase todos os países, menos o Brasil.
O governo continua gastando, e o presidente, popular, acha que é adequada a nossa carga tributária, mesmo sabendo que não temos infraestrutura adequada e que os serviços prestados pelo governo são de péssima qualidade. Sem falar nos custos de energia e petróleo.
Mas, quando passar tudo isso, o que terá sobrado da indústria brasileira?
A indústria, embora estagnada desde meados dos anos 1990, ainda é o principal motor da expansão econômica. Isso porque, enquanto é necessário um crescimento de 1,14% do setor de serviços para fazer a economia avançar 1%, basta um crescimento de 0,66% da indústria de transformação para obter o mesmo resultado.
O problema é que o Brasil apresenta claros sinais de desindustrialização precoce, embora alguns debochem desse termo, ou seja, experimenta redução da participação da indústria no PIB sem que tenha atingido níveis de renda per capita mais elevados como o que se verificou nos países desenvolvidos.
Essa queda da participação industrial no PIB foi mais acentuada no início dos anos 1990, quando ocorreu a abrupta liberalização comercial e financeira em ambiente macroeconômico e institucionalmente instável.
A ausência de condições estruturais e sistêmicas favoráveis à realização de investimentos em nova capacidade produtiva e em atividades de pesquisa e desenvolvimento, de maior prazo de maturação, fez a participação da indústria no PIB se reduzir a menos da metade de 1985 para 2009, respectivamente de 35,9% para 15,5%.
É verdade que a política macroeconômica de estabilização monetária foi acertada. Crescemos a uma taxa anual média nos últimos cinco anos maior que a média das duas décadas anteriores.

OBSTÁCULOS
Mas importantes obstáculos ao crescimento precisam ser enfrentados se quisermos fazer crescer rápida e continuamente a renda e o emprego nos próximos anos.
Aspectos tais como carga tributária, juros/"spread", câmbio, burocracia e corrupção, que desestimulam os investimentos industriais, representam fortes restrições ao nosso desenvolvimento.
Deve-se parar de achar que as reivindicações da indústria sejam lamúrias para obter proteção ou subsídio. A questão é outra. Queremos isonomia de condições para competir em mercados globalizados e, tendo claro o nosso papel, o de motor do desenvolvimento, temos consciência da importância que a indústria tem para a geração de emprego, da renda e do bem-estar de todos.
Mas, afinal, quem não gosta de uma boa farra? Pena que é sempre acompanhada de uma grande ressaca.

JOSÉ RICARDO RORIZ COELHO é diretor titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp.


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