|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Doze grupos ficam com 57% de repasses do BNDES
Maior financiador a longo prazo do país favorece Petrobras, Eletrobras e dez grupos privados, que concentram crédito de R$ 95 bilhões desde 2008
Juro do BNDES é inferior ao do mercado; banco argumenta que grandes empresas concentram maiores investimentos
RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO
As chaves do cofre bilionário do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) estão nas
mãos de dois gigantes estatais e um punhado de grupos
privados que nos últimos
anos se associaram a projetos de interesse do governo.
Levantamento feito pela
Folha com base nas operações divulgadas pelo banco
revela que a Petrobras, a Eletrobras e dez grupos privados ficaram com 57% dos
R$ 168 bilhões destinados a
transações contratadas de
2008 até junho deste ano.
Entre os mais favorecidos
pela instituição estão as três
maiores construtoras do
país, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht,
que controlam investimentos em diversos outros setores da economia, a mineradora Vale, o grupo Votorantim e o frigorífico JBS.
Além dos repasses que receberam diretamente do
banco, alguns grupos foram
beneficiados também como
sócios de empreendimentos
na área de infraestrutura e
de companhias de outros
grupos que conseguiram empréstimos da instituição.
Na avaliação do BNDES, a
elevada concentração de sua
carteira reflete o que se vê fora do banco: a taxa de investimentos do país é relativamente baixa e grandes empresas como a Petrobras são
responsáveis pelos principais projetos em andamento.
Mas os críticos que se incomodam com o favorecimento de grandes grupos
acusam o BNDES de usar seu
poderio para fortalecer empresas com amigos em Brasília em detrimento de concorrentes e dos consumidores.
Principal fonte de financiamento de longo prazo disponível no país, o BNDES virou objeto de controvérsia
por causa da expansão acelerada que sua carteira sofreu com a crise financeira
internacional, quando o governo decidiu reforçar os cofres dos bancos públicos para combater a recessão.
O BNDES recebeu R$ 180
bilhões. Como o Tesouro pagou juros elevados para levantar esses recursos e o
banco cobra de seus clientes
taxas inferiores às praticadas
no mercado, a operação tem
custo alto para a sociedade,
hoje difícil de calcular.
LIMITE
Ao turbinar o BNDES, o governo também permitiu que
ele ampliasse sua exposição
a grandes grupos. De acordo
com as normas do sistema financeiro, o banco pode emprestar até R$ 13 bilhões para
empresas de um mesmo conglomerado. Há um ano, o limite era de R$ 10 bilhões.
Em 2008, o governo autorizou o banco a ignorar esse
limite no caso da Petrobras,
que desde então recebeu
R$ 29 bilhões do BNDES. A
operadora de telefonia Oi,
controlada pela Andrade Gutierrez e pelo grupo La Fonte,
conseguiu R$ 7,6 bilhões.
Empresas como a Petrobras e a Vale têm ações negociadas em Bolsa e acesso a
outras fontes de financiamento. Os críticos do BNDES
dizem que elas teriam condições de obter capital em condições razoáveis mesmo se o
banco fechasse as portas.
"O BNDES trava o desenvolvimento do mercado de
capitais no país", diz a economista Ana Novaes, da consultoria Galanto e conselheira de duas empresas com
acesso ao cofre da instituição. "Ninguém pode competir com as taxas oferecidas
pelo banco e por isso ele fica
com os melhores clientes."
FOLHA.com
Veja a relação das operações contratadas pelo BNDES desde 2008
folha.com.br/me779272
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Lista de operações divulgada pelo banco é de difícil consulta Índice
|