São Paulo, quinta-feira, 08 de setembro de 2011

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Gasto de brasileiro nos EUA sobe 250%

Apenas chinês teve alta maior; turista do Brasil gasta US$ 5.918 per capita, abaixo só de japonês e britânico

Há 10 anos, 40% dos brasileiros que pediam visto eram rejeitados, hoje só 5%; emissão de turista dobrará até 2016

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
JULIO WIZIACK

DE SÃO PAULO

Os gastos dos brasileiros nos EUA explodiram. Cada brasileiro que vai aos Estados Unidos gasta, em média, US$ 5.918 -crescimento de 250% desde 2003, só perdendo para o aumento de despesas dos turistas chineses.
O brasileiro já está em 3º lugar no ranking dos turistas que mais gastam nos EUA, atrás apenas dos japoneses e britânicos (não incluindo os vizinhos mexicanos e canadenses, que viajam grande parte das vezes por via terrestre e para fins não turísticos).
No período, o brasileiro passou de 7º turista que mais gasta nos EUA para 3º, ultrapassando alemães, franceses, sul-coreanos e australianos.
É o que mostra um levantamento do Departamento de Comércio dos EUA a que a Folha teve acesso. Projeções do governo americano indicam que, além do aumento dos gastos, o número de turistas vai mais que dobrar nos próximos cinco anos, passando de estimados 1,4 milhão em 2011 para 3 milhões em 2016.
Os brasileiros sempre viajaram para fazer compras, mas, nesse período, boa parte passou a ir aos EUA só para comprar. Esse movimento é reflexo da supervalorização do real e do aumento interno de preços.
Uma pesquisa da RC Consultores mostra que, em uma cesta com 30 produtos em oito países, o Brasil é o mais caro. De fralda descartável, passando por lâmina de barbear, até roupas e eletrônicos, tudo é muito mais barato no exterior. Resultado: o país passou a "exportar" seu consumo de alta renda.
A nutricionista Ana Mercedes Pacheco Chaves e suas primas voltam aos EUA a cada dois anos só para fazer compras. Recentemente, Ana e o marido, o músico Ricardo Pacheco e Chaves, voltaram de Orlando (EUA) onde passaram 13 dias só fazendo compras em outlets.
Vieram com 12 malas e o enxoval do filho Bernardo completo até os quatro anos. "A gente passava o dia indo de shopping em shopping", diz.
"Gastamos 30% menos do que gastaríamos no Brasil. Por isso eu não compro nada aqui."
O diretor comercial Dominic Souza, 40, precisava comprar roupas de cama para a família. Casado e com dois filhos, gastaria R$ 3.000 no Brasil. "Nos EUA, gastei US$ 176", diz. "Só com a diferença de preço já deu para pagar a passagem."
O turista viaja até para reformar sua casa. A decoradora Elaine Bettio mora em Miami há 12 anos e diz nunca ter atendido tanto brasileiro.
Ela leva seus clientes para comprar tudo o que vai dentro de uma casa -de torneiras e maçanetas até sofás e geladeira. A compra segue direto em um contêiner para o Brasil. "Fica até 40% mais barato mesmo com imposto."
Alguns decidem comprar imóveis em Miami, aproveitando a queda de preço. O corretor Folko Weltzien, dono da imobiliária Miami Realty Solution Group, afirma que, há dez anos, ele tinha só dez clientes brasileiros. Neste ano, já são 20. Segundo Weltzien, com US$ 300 mil é possível comprar um apartamento de 125 m2 no bairro descolado de South Miami Beach. Pelo mesmo valor só se compra um apartamento novo em Perdizes, de 70 m2.
O governo americano, ciente do interesse dos brasileiros em vistos para ir fazer compras nos EUA, tenta agilizar o processo e vai inaugurar um serviço do tipo "poupatempo". Há dez anos, 40% dos brasileiros que pediam visto eram rejeitados; hoje são só 5%.


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