São Paulo, sexta-feira, 08 de outubro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Chávez nacionaliza empresa do setor agrícola

Líderes do setor criticam excesso do governo, que busca "controle total"

Venezuela importa 70% dos alimentos que consome; desde 2003, expropriou 2,5 milhões de hectares de terra

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

Dono de terras, fábricas e supermercados, o governo Hugo Chávez decidiu nesta semana decretar "a compra forçosa" da empresa Agroisleña, líder no mercado de implementos agrícolas.
A atitude provocou reação em produtores rurais e pecuaristas, e até em exportadores brasileiros.
Ontem, o presidente da Fedenaga, a associação nacional de produtores de gado, subiu o tom do protesto. "Presidente, chegou a hora de corrigir. Não tente nos encurralar", disse o presidente da entidade, Egildo Luján.
"Se tentar nos tirar nossas propriedades, nos defenderemos", continuou.
Analistas veem a nacionalização da empresa hispano-venezuelana Agroisleña como a segunda etapa da "radicalização da revolução agrária" anunciada por Chávez no domingo. A primeira foi a aprovação, em maio, da nova lei de terras, que proíbe arrendamentos, por exemplo.
O governo argumentou que a Agroisleña, responsável por 60% do mercado de implementos agrícolas, "envenenava" o campo e mantinha uma relação "feudal" com seus clientes. Prometeu pagar um preço "justo" pela empresa.
Mesmo a Confagan, confederação de pecuaristas e agricultores, com 300 mil afiliados, que apoiou a decisão de Chávez, exortou o governo a manter o nível de gerência da empresa, com mais de 50 pontos de venda no país.
Entre economistas considerados próximos do governo, como o ex-ministro da Indústria Básica Victor Álvarez, as críticas são sobre o voluntarismo e a falta de quadros no governo para tocar tantas responsabilidades ao mesmo tempo.
"É só ver quantos no governo acumulam cargos. A falta de quadros é um gargalo", disse Álvarez, autor de "Para Onde Vai o Modelo Produtivo Venezuelano?".
A Venezuela importa 70% dos alimentos que consome, numa dependência que se ampliou na era Chávez, de 1999 para cá.
Com a nacionalização, o governo participa de mais uma etapa do setor de alimentos, considerado "estratégico". O plano de desenvolvimento socialista 2007-2013 diz que o Estado conservará o controle total das atividades produtivas estratégicas.
O governo anunciou que deve expropriar mais 750 mil hectares nos próximos meses -em sete anos foram expropriados 2,5 milhões de hectares. Desde 2007, já controla 75% da produção de café, 42% da farinha de milho -base da alimentação local- e quase metade da produção de leite.


Texto Anterior: Automotivo: Produção de veículos cresce 17,3% no ano
Próximo Texto: Impostos: Governo Argentino acusa Bunge de sonegar mais de US$ 300 mil
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.