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Custo das reservas ficou R$ 3,5 bi acima do investimento federal
No governo Lula, proteger o país de crises pesou mais no bolso do contribuinte do que obras
No entanto, isso não
significa que o governo
poderia investir mais
se não fossem as
reservas internacionais
SHEILA D'AMORIM
DE BRASÍLIA
Proteger o país de crises
externas aumentando a poupança do governo em dólar
pesou mais no bolso do contribuinte brasileiro do que os
investimentos feitos pelo governo Lula em estradas, hospitais, escolas e outras obras.
Nos últimos sete anos, o
estoque das chamadas reservas internacionais cresceu
mais de seis vezes e atingiu
níveis históricos, o que foi
considerado um feito da área
econômica.
Atualmente as reservas somam US$ 287 bilhões.
Mas manter isso custou
cerca de R$ 136,2 bilhões,
R$ 3,5 bilhões a mais do que
os investimentos federais,
que somaram R$ 132,7 bilhões entre 2003 e 2009.
Ainda assim, somente no
ano passado, o custo de ter
US$ 240 bilhões em reservas
foi R$ 4,7 bilhões maior do
que os desembolsos do governo com investimento, segundo levantamento feito
pela Folha.
Essa quantia corresponde
a quase quatro meses de repasses do programa Bolsa
Família, uma das bandeiras
da gestão atual.
GASTOS
Em 2009, foram gastos
R$ 38,8 bilhões com o peso
das reservas frente aos
R$ 34,1 bilhões de investimentos.
Isso não significa que o governo poderia turbinar seus
investimentos se não fossem
as reservas internacionais.
A manutenção dessa poupança é financiada pelo aumento da dívida pública, e,
por restrições legais, esse endividamento não poderia ser
totalmente transferido para
despesas e investimentos.
As reservas são formadas
principalmente pelos dólares
que estão em excesso no
mercado e são comprados
pelo Banco Central.
O órgão faz isso para evitar
que o real se valorize muito.
Esses dólares são aplicados no exterior. E está aí o
ponto central do problema.
RENDIMENTO
Enquanto esses recursos
rendem pouco -o rendimento médio em 2009, segundo o
Banco Central, foi de
0,83%- o governo gasta o
equivalente aos juros internos, que, na média do ano
passado, ficaram um pouco
abaixo de 10% ao ano.
O gasto do governo ocorre
porque, ao comprar dólares,
o BC injeta reais na economia. Para não deixar dinheiro demais circulando, ele
vende títulos públicos e esses
papéis são corrigidos com
base na taxa de juros de referência do Brasil.
A situação é semelhante a
de um trabalhador que aplica seu salário na caderneta
de poupança e compra parcelado no cartão de crédito.
Os juros que remuneram a
poupança mensalmente são
menores do que os que corrigem as despesas dele.
Questionado sobre o assunto, o BC, em nota, defendeu a política em vigor por
seus benefícios.
"Estes benefícios são palpáveis: menor custo de captação para as empresas brasileiras e para o próprio Tesouro Nacional, aumento no investimento e no nível de emprego, maior capacidade de
adoção de políticas contracíclicas em resposta a crises,
maior credibilidade da autoridade monetária, maior estabilidade financeira e menor percepção de risco Brasil", diz o órgão.
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