São Paulo, terça-feira, 08 de novembro de 2011

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BENJAMIN STEINBRUCH

Novos pobres


Estímulo ao crescimento, sem conservadorismo, é a receita para os países ricos e o desafio para o Brasil

Não há, no horizonte, sinais de que a economia mundial possa iniciar um período de recuperação. Todas as previsões indicam o contrário. A Europa, que já apresenta crescimento muito baixo neste ano (a estimativa é de 1,6%) corre risco de entrar em recessão em 2012. Na melhor das hipóteses, haverá estagnação econômica.
Do velho continente só chegam indicadores ruins. A desaceleração continuada da economia provoca desemprego em níveis assustadores, como 14% da força de trabalho na Irlanda, 18% na Grécia e 22,6% na Espanha. Mesmo com a queda de demanda, a inflação continua alta para os padrões regionais.
A única boa notícia para a Europa foi o pacote anunciado pela União Europeia há duas semanas, que envolve o calote de 50% da dívida da Grécia, a recapitalização dos bancos e a formação de um fundo de € 1 trilhão para apoio aos países em dificuldade. Mesmo assim, o pacote esbarrou em problemas políticos internos na Grécia e até agora não está 100% confirmado.
Para a formação do fundo europeu e também para elevar os recursos do FMI estão sendo convocados até mesmo os países emergentes, entre os quais Brasil, Índia e China. Triste ironia: os pobres de ontem são chamados a contribuir para salvar os novos pobres de hoje.
As previsões para os Estados Unidos e o Japão também são desalentadoras. Segundo a OCDE, os EUA deverão crescer apenas 1,7% em 2012 e o Japão entrará em recessão suave (-0,5%). Até a China abandonará o ritmo de crescimento de dois dígitos e crescerá 8,6%. Essas informações podem parecer aborrecedoras e depressivas para o leitor. Trago-as, porém, porque elas são muito importantes para orientar reflexões sobre o que o Brasil deve fazer neste momento conturbado da economia mundial.
Em duas reuniões do G20 de que participou (a última na semana passada), a presidente Dilma insistiu em uma mensagem básica: o Brasil não acredita que a crise possa ser superada com a velha receita do corte de gastos, da recessão e do desemprego. O caminho é o estímulo ao crescimento, com geração de empregos e redução de desigualdades, bem como políticas fiscais e monetárias responsáveis, ou seja, não comandadas pelo conservadorismo.
Sem dúvida, essa é a receita para o grupo dos ricos e esse é também o desafio para o Brasil.
Dar ouvidos a políticas conservadoras seria um desastre. Foi-se o tempo em que se acreditava que o remédio amargo da austeridade fiscal servia para todas as doenças da economia. Políticas de estímulo à demanda interna, corte de juros para um nível civilizado, oferta de recursos para financiamento de investimento e consumo, além de amplo programa de estímulo ao desenvolvimento do mercado interno são medidas que podem compensar o desaquecimento externo. Foi assim que o país superou o difícil 2009, quando se instalou a maior crise global dos últimos 80 anos, e deve ser assim neste momento de recaída.
Felizmente, a sociedade brasileira conta com um Banco Central responsável nessa matéria. Em confronto com formadores de opinião do mercado financeiro, a autoridade monetária entendeu que era hora de reduzir os juros e o fez nas duas últimas reuniões do Copom. E o fará novamente no dia 30.
Sem descuidar de sua função de vigiar a inflação, a autoridade monetária, também preocupada com o esfriamento da economia, conseguiu alterar expectativas dos agentes econômicos, ainda que estes tenham usado gramofones para se manifestar. Juros irresponsavelmente altos promovem a entrada de capitais especulativos, distorcem a taxa cambial, aumentam os custos de capital, desequilibram o Orçamento público pelo aumento dos gastos com encargos da dívida e encarecem financiamentos em geral.
Com responsabilidade e controle, cabe ao poder público manter, sem medo, os estímulos importantes ao financiamento de consumo e de investimentos em infraestrutura, na construção civil e em áreas estratégicas como petróleo e energia. Sem isso, não haverá continuidade de crescimento e o país caminhará na mesma trilha em que se meteram os novos pobres da Europa.

BENJAMIN STEINBRUCH, 58, empresário, é diretor- presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças, a cada 14 dias, nesta coluna.

bvictoria@psi.com.br

AMANHÃ EM MERCADO:
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