São Paulo, quarta-feira, 08 de dezembro de 2010

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commodities

Nióbio está na mira do Pentágono há muito tempo, diz mineradora

EUA foram primeiros a classificar metal como estratégico; Brasil tem 98% das reservas mundiais

Nióbio, que na década de 50 ganhou peso na corrida espacial, hoje é amplamente usado pela indústria siderúrgica

TATIANA FREITAS
DE SÃO PAULO

A preocupação dos Estados Unidos com as reservas de nióbio no Brasil, revelada anteontem pelo WikiLeaks, não é recente e tem origem na importância do metal para a Defesa nacional.
Os americanos foram os primeiros a classificar o nióbio como estratégico e, há décadas, analisam o comportamento da oferta do produto.
"Essa história de metais estratégicos começou com os EUA, há muitos anos. Eles têm uma agência que controla esse tipo de metal e existem relatórios periódicos sobre o tema", disse Tadeu Carneiro, presidente da CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração).
"Essas análises são muito ligadas à Defesa. Para tudo o que é material usado nessa área e que eles [americanos] não têm lá, foi feito um ranking do quão é estratégico", acrescentou ele, numa entrevista à Folha em outubro.
A CBMM é a maior produtora de nióbio do mundo, responsável por 80% do mercado global. Suas reservas concentram 91% da oferta brasileira, segundo os dados mais recentes do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), e têm durabilidade estimada em 200 anos, segundo Carneiro.
Por isso, a empresa, que é do grupo Moreira Salles -também no controle do Itaú Unibanco-, está no centro das atenções dos diplomatas americanos.
E também dos europeus. Em meados deste ano, a União Europeia divulgou uma lista com 14 metais considerados estratégicos para a sua economia e que, na avaliação do bloco, podem sofrer restrições na oferta. O nióbio está na relação.

OFERTA CONCENTRADA
A definição de "metal estratégico", segundo Carneiro, depende de três questões: a importância da matéria-prima para a indústria local, em termos de aplicação; a possibilidade de substituição por outros produtos; e a disponibilidade do mineral no mercado interno.
Como o Brasil detém 98% das reservas de nióbio do mundo, esse metal é estratégico para a maioria dos países que o usa, seja na aplicação mais comum -a siderurgia- como nas mais específicas, como a indústria aeroespacial.
"Mas tem gente que começa a fazer extrapolações que, na verdade, não cabem", disse Carneiro. "O pessoal acha que tem nióbio na carcaça do foguete, mas não tem."

NA VIDA REAL
Segundo Carneiro, o nióbio não tem "o glamour do foguete", mas tem impacto direto na produção industrial e em obras de infraestrutura, o que torna o produto cada vez mais atrativo.
Hoje, cerca de 90% do metal é usado como liga na produção de aço, para aumentar sua resistência, sem torná-lo quebradiço. "Qual é a consequência disso? Você precisa usar menos aço", afirmou.
"Um automóvel médio tem de 800 a 1.000 quilos de aço. Se você tira de 100 a 150 quilos do carro, ele economiza 1 litro de gasolina a cada 200 quilômetros rodados."
Da mesma forma, com o nióbio é possível construir uma ponte 60% mais leve, devido à menor quantidade de aço utilizada. "Já imaginou transportar e manusear 60% a menos de material? Isso é consciência ambiental."
O apelo da sustentabilidade e da eficiência, segundo Carneiro, elevou a demanda por nióbio em 17% ao ano entre 2002 e 2008. E, para ele, o produto, que nos anos 50 ganhou peso na corrida espacial, agora vai possibilitar a expansão da infraestrutura.
"Os recursos para a produção de aço são limitados -e não existe crescimento econômico sem aço", afirmou.


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