São Paulo, sábado, 09 de abril de 2011 |
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ANÁLISE CONJUNTURA Mudanças macroeconômicas poderão custar muito caro
GERALDO BARROS ESPECIAL PARA A FOLHA A esta altura já não cabe discutir se houve ou não mudanças no regime de política macroeconômica no Brasil. É evidente que houve. Terão sido oportunas e acertadas? Primeiro, aproveitando as dificuldades da crise financeira, esticou-se a política anticíclica além dos limites. Recursos fiscais passaram a ser maciçamente transferidos ao BNDES para socorrer ou incentivar alguns grupos privilegiados. Feriu-se gravemente a credibilidade das metas fiscais através da chamada contabilidade criativa. Para aliviar a política de juros, ressuscitaram-se as agora chamadas "medidas macroprudenciais" para o mercado de crédito, usando instrumentos cujos efeitos, além da perda de eficiência alocativa, não têm sido estudados devidamente. Infere-se agora que a política de metas de inflação vai sendo abandonada, deixando o combate à inflação de ser objetivo único da política monetária e adiando-se o cumprimento da meta, sujeitando-o aos avanços e recuos da atividade econômica. A sintonia entre os juros e as expectativas de mercado vai se perdendo, com prováveis custos mais adiante. A mudanças incluem o regime cambial, que agora é praticamente de câmbio fixo, com monumentais custos de manutenção de um estoque muito elevado de reservas. Enquanto isso, de um lado, multiplicam-se as dificuldades para gastar essas reservas via importação e viagens ao exterior e, de outro, criam-se barreiras para a entrada de novos capitais. O momento não é adequado para experimentar novas estratégias macroeconômicas. O mundo se encontra numa fase de alta de preços de commodities de duração indeterminada. Mesmo que esses preços deixassem de subir -o que aconteceria diante de uma crise recessiva mundial e/ou uma forte redução de liquidez-, ainda assim a assimilação desses patamares de preços na economia poderia durar vários anos devido ao descontrole fiscal, ao câmbio fixo e à elevada indexação. Ainda neste ano, a economia terá de digerir um IGP acima de 11% vindo do ano passado e, em 2012, um aumento do salário mínimo de 13%. No meio-tempo, o aumento de preços de combustíveis pela Petrobras torna-se cada vez mais provável. O que se pode esperar de bom dessas mudanças? Pouca coisa, pois são mudanças que ficam sempre a meio caminho, mudanças pela metade, que, em geral, pioram uma situação já difícil. Os juros não subirão tanto, mas ainda permanecerão altos, continuando a onerar a produção e a desestimular o investimento. O país vai conviver com juros altos e inflação acima da meta. O mesmo vale para a carga tributária, que também fica no meio da estrada: muito alta, mas -sem a devida contenção de gastos- insuficiente para resolver os problemas na área fiscal. O câmbio poderá ser contido, mas não num nível que alivie a indústria da competição das importações. Poderá, sim, passar a prejudicar as exportações dos setores mais competitivos à medida que a inflação aumentar. Enquanto isso, os instrumentos que aumentariam a produtividade -como educação e ciência e tecnologia, saúde e infraestrutura-, viabilizando mudanças eficazes na política macroeconômica brasileira, não avançam no ritmo necessário. GERALDO BARROS é professor titular da USP/Esalq e coordenador científico do Cepea/Esalq/USP. Texto Anterior: Mineração 2: Rio Tinto compra Riversdale por US$ 4 bilhões Próximo Texto: FOLHA.com Índice | Comunicar Erros |
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