São Paulo, quinta-feira, 09 de junho de 2011

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Relator pede veto à união Sadia-Perdigão

Julgamento do Cade é suspenso e deve ser retomado na quarta; tendência é que demais conselheiros votem contra fusão

Ações da BR Foods fecham o dia em queda de 6%; empresa afirma esperar "solução que não seja tão radical"

LORENNA RODRIGUES
DE BRASÍLIA

Em um dos votos mais duros da história do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), o relator da fusão entre Sadia e Perdigão, Carlos Ragazzo, pediu ontem que o negócio seja desfeito.
Após quase sete horas, um pedido de vista do conselheiro Ricardo Ruiz adiou o julgamento, que deverá ser retomado na próxima quarta.
Ruiz disse que acompanhará o relator e votará contra a fusão. Outros três conselheiros ainda darão seus votos, mas, segundo a Folha apurou, a tendência é que a maioria vete a operação.
"Raramente se vê, na análise antitruste, uma operação na qual a probabilidade de danos de mercado ao consumidor se mostra de maneira tão evidente. A aprovação desse ato tem o condão de causar aumento de preço e danos extremos aos consumidores", criticou Ragazzo.
Em nota, a BRF (Brasil Foods), empresa resultante da união Sadia-Perdigão, disse discordar do posicionamento do relator e considerar o pedido de vista positivo, pois os demais quatro conselheiros "terão mais tempo para avaliar a questão".
Se o Cade reprovar o negócio, a Perdigão terá um prazo determinado para vender toda a sua participação na Sadia e desfazer a operação.
A empresa poderia recorrer à Justiça, mas mais de 80% das decisões do órgão são mantidas pelo Judiciário.
Fechada em 2009, a compra da Sadia pela Perdigão resultou na terceira maior exportadora brasileira e em uma das maiores empresas de alimentos do mundo.
Logo após o negócio ser fechado, as empresas assinaram com o Cade um termo se comprometendo a manter as atividades separadas, para garantir que a operação seja revertida após decisão final.
Enquanto Ragazzo lia o voto, a ação da BR Foods caía -fechou em queda de 6,27%.
A Folha apurou que a empresa poderá, diante da perspectiva de ter o negócio vetado, propor um acordo. A BR Foods chegou a apresentar uma proposta -que previa a alienação de marcas menores-, considerada insuficiente pelo Cade.

SOLUÇÃO NEGOCIADA
"A empresa continua acreditando que exista argumentos para uma solução negociada. Quatro opiniões ainda precisam ser trabalhadas no sentido de encontrar uma solução que não seja tão radical", disse o vice-presidente de Assuntos Corporativos da BR Foods, Wilson Mello.
Nas mais de 500 páginas de seu voto, Ragazzo ressaltou a concentração de mercado gerada pela fusão, que ultrapassa 60% de participação na maioria dos produtos.
Ele chegou a analisar restrições que poderiam ser impostas à operação, como alienar uma das duas marcas principais, mas concluiu que nem assim o consumidor estaria protegido.
Segundo estudos do conselho, a operação daria um poder de mercado tão grande que possibilitaria à BRF elevar os preços em até 40%.
A empresa diz que, mesmo em 2010, quando a fusão já havia ocorrido, a alta média de seus produtos foi de 3%.


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