São Paulo, sexta-feira, 09 de julho de 2010

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Cresce temor de uma nova recessão no próximo ano

Indicadores recentes reforçam risco de "duplo mergulho" na economia

Países desenvolvidos e mesmo a China emitem sinais de que a reação no pós-crise é menos vigorosa que a esperada


ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

Recentes indicadores econômicos negativos de países desenvolvidos e até da China suscitaram um debate sobre uma possível nova recessão em 2011. Isso levaria ao chamado "mergulho duplo", ou seja, a economia global, que se contraiu em 2008, voltaria a se retrair no próximo ano.
"Os indicadores ainda são mistos, mas dados recentes do mercado de trabalho e do setor imobiliário foram negativos. O risco de um "mergulho duplo" é real, e eu o colocaria como sendo de 1 em 3", diz John Bowler, diretor de risco soberano da consultoria Economist Intelligence Unit (EIU).
Mesmo que a tese do risco crescente de um "mergulho duplo" -defendida, entre outros, pelo ganhador do Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman- não se confirme, é consensual a percepção de que as ameaças ao desempenho global cresceram.
Essa visão foi referendada ontem pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) na sua atualização do Panorama Econômico Mundial.
Em alusão à sua projeção de crescimento para a economia global de 4,6% para 2010, que representa alta de 0,4 ponto percentual em relação ao número divulgado em abril passado, o Fundo alertou: "Riscos [à recuperação] aumentaram fortemente em meio à renovada turbulência financeira".
O Fundo ressaltou a recuperação mais forte do que o esperado nos EUA no primeiro semestre deste ano.
Mas dados recentes revelaram que as economias dos países desenvolvidos, ainda solapadas por dívidas gigantescas tanto do setor público como do privado, não adquiriram vigor suficiente para caminhar de forma mais acelerada sem a ajuda das muletas de políticas fiscais e monetárias expansionistas.
"À medida que os incentivos estão expirando, a atividade econômica voltou a patinar", diz Virgílio Castro Cunha, economista-chefe para o Brasil e estrategista de renda fixa do Bank of America Merrill Lynch (BAML).

PERSPECTIVAS RUINS
O número de contratos pendentes para compras de casas usadas nos EUA recuou 15,6% em maio em relação ao mesmo período do ano anterior. Isso indica perspectivas ruins tanto para novas vendas como para os preços de imóveis.
Dados recentes do mercado de trabalho norte-americano também têm preocupado. O saldo entre contratações e demissões (excluindo o setor agrícola) nos EUA em junho atingiu pela primeira vez em 2010 uma marca negativa de 125 mil postos de trabalhos eliminados.
Até na China, principal motor do crescimento global, dados que revelaram um ritmo menor de expansão da produção industrial nos últimos meses apontam para crescimento ainda forte, mas com uma clara tendência de desaceleração.


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