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OPINIÃO
Telecomunicações, planejamento e instituições
ARTHUR BARRIONUEVO
ESPECIAL PARA A FOLHA
As telecomunicações foram atingidas por várias "novidades" nos últimos meses.
Entre elas, a decisão da
Anatel de eliminar o limite de
concessões por área para o
serviço de TV paga, a recusa
da oferta da Oi pelos minoritários da BrT e o renascimento da Telebrás e do PL 29,
com quotas de programação.
Nos serviços de telecomunicações, as metas têm horizonte de longo prazo. É necessário, então, que a opinião pública tenha a oportunidade de julgar os efeitos
dos acontecimentos em curso e verificar sua conformidade com os interesses do país.
Como 2010 é ano eleitoral,
neste ano haverá oportunidades para conhecer a visão
dos candidatos sobre o tema.
As decisões na área parecem não ter rumo definido e
podem criar uma situação de
difícil reversão.
A incorporação da BrT pela Oi (que depende só de
acerto de preço), por exemplo, será realizada sem que o
Cade tenha tido a oportunidade de analisar os efeitos
concorrenciais da maior concentração de empresas já
realizada no Brasil.
O fim das licenças em TV
paga mudará as regras do setor, sem nenhum aviso ou
discussão, afetando a saúde
financeira e os investimentos
futuros das operadoras. O renascimento da Telebrás, com
uma "reserva de mercado"
de órgãos públicos, diminui
ainda mais a competição.
E a programação de TV paga sofrerá enorme intervenção, dependendo da redação
final do PL 29.
Não há dúvida de que a extensão dos serviços de telecomunicações, em particular
da banda larga, que é essencial para a inclusão digital,
necessita de planejamento e
incentivos estatais. Todavia,
arbitrariedades e improvisação não podem ser confundidas com implementação de
políticas públicas.
PLANEJAMENTO
O planejamento, em uma
sociedade democrática, só se
realiza se a sua institucionalização for respeitada. É necessário que objetivos e
meios para atingi-los sejam
definidos claramente e respeitados no futuro. Até mesmo para que sejam implementados com eficiência.
Nos países desenvolvidos,
uma das principais funções
das agências reguladoras é
assessorar o planejamento.
O planejamento deve ser
aberto, pois os diferentes interesses -das operadoras estabelecidas (como as de telefonia fixa), de novas empresas e de consumidores, entre
outros- devem se explicitar.
Trata-se de um processo
ao mesmo tempo político,
pois considera a diversidade
de interesses, e técnico, pois
busca criar incentivos para a
maior eficiência preservando
os agentes nele envolvidos.
Em telecomunicações, investimentos têm prazos de
retorno que se medem em décadas. Logo, eles necessitam
de regras claras que sejam
respeitadas; ou seja, de políticas públicas que mereçam
esse nome.
ARTHUR BARRIONUEVO, professor da
FGV-SP, é especialista em defesa da
concorrência e regulação.
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