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Erro da Anatel deixa milhões sem telefone
Regulação de metas de universalização criou brechas para instalação de orelhões; erro afetou regiões remotas
Na Bahia, 4 milhões de habitantes ficaram sem acesso ou distantes de aparelhos; empresas contestam nova norma
JULIO WIZIACK
DE SÃO PAULO
A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e
as operadoras de telefonia fixa travam uma disputa que,
nos bastidores, revela lacunas no cumprimento das metas de universalização.
Técnicos apontam erro da
agência ao regulamentar as
metas de instalação de telefones fixos no país. O PGMU
(Plano Geral de Metas de Universalização) deixou lacunas
que fizeram com que os investimentos fossem reduzidos ou destinados para outros setores.
Com a aprovação do novo
PGMU, que ainda precisa ser
regulamentado para entrar
em vigor, localidades mais
afastadas -incluindo a zona
rural- terão mais chances de
ser atendidas, corrigindo o
problema.
Na regulamentação do
PGMU atual pela Anatel, em
fevereiro deste ano, um artigo definiu que as teles teriam
de instalar, em média, seis
orelhões por grupo de mil habitantes por Estado.
O problema é que essa meta só foi destinada a localidades com pelo menos um telefone fixo individual instalado, residencial ou comercial.
Locais sem acesso ficaram fora do cumprimento da meta.
Mesmo assim, a área técnica da agência pediu a abertura de diversos processos,
acusando uma das operadoras de descumprimento das
referidas metas. Esses processos se arrastam até hoje.
As teles afirmam ter cumprido suas obrigações.
SEM FISCALIZAÇÃO
Até 2008, a Anatel não tinha como verificar se a densidade de orelhões estava
sendo cumprida. De acordo
com o PGMU, esse cálculo
deve ser feito somando o total de orelhões instalados no
Estado multiplicado por mil e
dividido pela população total estimada pelo IBGE.
Com a regulamentação do
PGMU, o artigo sexto definiu
que as metas só seriam aplicadas nas localidades que tivessem pelo menos um telefone individual. Resultado:
na Bahia, cerca de 4 milhões
de moradores passaram a ter
dificuldade de acessar um
orelhão ou ficaram completamente sem acesso.
O problema também ocorreu na Paraíba, onde o promotor José Eulâmpio Duarte
acompanha o caso. "Só
aguardamos o envio dos processos instaurados pela Anatel para decidir se vamos
abrir uma ação civil pública", diz. "Essa lei foi feita para favorecer as operadoras."
Para Duarte, a telefonia celular acabou substituindo os
telefones públicos, mas ainda existem milhares de brasileiros cuja renda só permite o
acesso a um orelhão.
É verdade que, com o novo
PGMU, as teles terão de cumprir uma meta menor: 4,5
orelhões por grupo de mil habitantes. Mas, de acordo com
o novo plano, as metas valerão para todos os municípios, com ou sem telefone individual instalado.
As concessionárias terão
até um ano após a regulamentação para se adequarem. Estima-se que mais de
30 mil orelhões tenham de
ser instalados no país.
Em tempos de convergência, as operadoras contestam
a decisão e dizem esperar
que a agência adote medidas
alternativas.
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