São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2011

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Argentina teme desaceleração no Brasil

Cenário nebuloso soma estagnação da demanda doméstica, crescimento menor brasileiro e efeitos da crise global

Para economista, argentinos deveriam buscar retomar volume maior de negócios com Chile, Peru e Venezuela

LUCAS FERRAZ
SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Dois episódios ocorridos durante a semana passada revelaram com clareza o ponto a que chegou a apreensão dos empresários argentinos com a desaceleração da economia brasileira e os possíveis efeitos da crise internacional no país vizinho.
Primeiro, foram as empresas Fiat Argentina e Alpargatas, que decidiram dar folga para seus funcionários com o objetivo de diminuir sua produção devido a uma possível redução da demanda por parte do Brasil. Horas depois, porém, a Fiat acabou voltando atrás.
O segundo episódio: na quarta-feira, um relatório publicado pela Adefa, a associação de fábricas de veículos automotores, mostrou que a Argentina exportou 11,4% menos carros em setembro na comparação com o mesmo mês do ano passado.
Como mais de 80% das vendas de automóveis da Argentina para o exterior se destinam ao Brasil, existe muita preocupação caso o vizinho reduza as importações.
O presidente da União Industrial Argentina, José Ignacio de Mendiguren, chegou a afirmar, durante a semana passada, que a crise havia enfim chegado à Argentina.
"O pior cenário é que o Brasil deixe de crescer. A Argentina não está blindada", disse. No dia seguinte, porém, recuou, dizendo que a imprensa havia exagerado no alarmismo com o qual difundiu suas declarações.

EVITAR IMPACTO
O empresário fez elogios ao governo Cristina Kirchner, que, segundo ele, está atuando para evitar um impacto negativo na produção.
Para os empresários argentinos, as turbulências na economia brasileira e a possibilidade de o país não crescer como nos últimos cinco anos remetem a 1999, quando a forte desvalorização do real afetou a Argentina, tendo um efeito devastador na crise que se abateria sobre o país vizinho em 2001.
"O temor é que se repita o cenário de 1999. Atualmente as economias estão muito mais interconectadas, embora as conjunturas, nos dois países, sejam completamente diferentes", diz Cristán Rodríguez, analista do Cadal (sigla em espanhol para Centro para a Abertura e Desenvolvimento da América Latina).
Segundo o economista Marcelo Elizondo, a apreensão dos empresários argentinos não se restringe somente com o desempenho da economia do Brasil.
"Aproxima-se um cenário mais nebuloso, por conta da estagnação da demanda doméstica, que parou de crescer, e a expectativa pelas consequências da crise mundial. A isso se soma a possibilidade de o Brasil crescer menos."
Para Elizondo, a dependência da indústria argentina em relação ao Brasil é preocupante. "Nos últimos cinco anos, as exportações para o Brasil cresceram 130%. Não é nada bom ficar dependente do comércio com um só país. As empresas e o governo deveriam se preocupar com a recuperação de mercados para os quais costumávamos vender mais, como o Chile, o Peru, a Venezuela."
Segundo analistas, outro efeito colateral desse cenário deve ser o aumento das medidas protecionistas, prática que o governo da Argentina vem aumentando cada vez mais desde 2004.



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