São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2011

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Aparição derradeira de Jobs foi de surpresa

Na apresentação do iPad 2, líder da Apple fez sua mágica pela última vez para um público cativo e entusiasmado
No palco, ele se tornava mestre de cerimônias de uma festa em que a tecnologia era sempre a convidada principal

RODOLFO LUCENA
COLUNISTA DA FOLHA

Magro, com voz fraca, calças sobrando no corpo e a tradicional camiseta preta de gola rulê e mangas longas
-também ela parecendo ter sido feita para alguém mais robusto-, Steve Jobs adentrou o palco do Yerba Buena Center for The Arts ao som de "Here Comes The Sun".
A julgar pelos aplausos entusiasmados de uma platéia quase toda em pé, parecia mesmo que o sol tinha chegado àquele auditório escuro, com temperatura controlada por ar-condicionado.
Na apresentação do iPad 2, em março passado, em San Francisco, o líder da Apple fez pela última vez sua mágica para um público cativo e entusiasmado.
Já sentia a progressão violenta da doença, tanto que estava, na época, em licença para tratamento; Tim Cook era o responsável pelo comando cotidiano da empresa.
Tratava-se apenas de uma conferência de imprensa, não um show como os que Jobs estrelava na MacWorld -feira em que a Apple costumava mostrar suas novidades.
Naqueles eventos, as filas para a palestra do comandante se formavam horas antes de se abrirem as portas do auditório, fosse ele em Nova York ou San Francisco -durante um período, a feira ocorreu em diversas cidades dos EUA e até no Japão.
Nerds, geeks, macmaníacos de diversas gerações sempre diziam presente, engrossando o culto a Jobs.
Ele não negava fogo. No palco, não tinha nada da personalidade reclusa, exigente, perfeccionista e autoritária pintada por ex-funcionários e desafetos; tornava-se um mestre de cerimônias de uma festa em que a tecnologia era a convidada principal.
Não fazia palestras, mas "showferências", arrancando aplausos de seus fiéis mesmo quando as novidades exibidas nem eram tão flamantes como ele fazia parecer.
Seduzia até parcela da imprensa especializada -que, supostamente, deveria se manter distante e crítica em relação a empresas e personalidades-, como ficou evidente na sua última aparição no palco do Yerba Buena.
Desde bem antes da hora marcada para a palestra, cujo tema era secreto, ao tradicional estilo da Apple, centenas de jornalistas se acotovelam na antessala do auditório.
"Será que ele vai aparecer?", era a pergunta que todos faziam nos iPads, em celulares inteligentes, netbooks e laptops usados para atualizações frenéticas em blogs de tecnologia do mundo todo.
Ao meu lado, um jornalista mexicano cochichava ter visto uma moça que parecia ser a assistente pessoal de Jobs. Pronto: era garantido que Steve viria. Só faltou o cara dar pulinhos de alegria...
No auditório, cada um busca o melhor lugar, enquanto rola som dos Beatles: "Ticket to Ride", "Revolution", "With a Little Help From My Friends"...
Um locutor pede que o público desligue seus aparelhos eletrônicos e dá outras instruções; apagam-se as luzes, toca "Here Comes the Sun", Jobs entra no palco.
Começa a falar com voz fraca, mas aos poucos se entusiasma, seu tom ganha firmeza. "Nós estamos trabalhando nesse produto já há algum tempo e eu não queria perder este dia", diz ele logo no início, como a justificar o fato de ter saído de sua licença médica para os holofotes.
A palestra segue o estilo dos shows de Jobs. Primeiro, fala dos sucessos recentes da Apple no terreno do que chama de pós-computadores pessoais, com suas linhas de iPod, iPhone e iPad. Não deixa de dar alfinetadas nos concorrentes e logo se retira para um descanso, enquanto passa um vídeo institucional.
Ao longo do evento, ficam marcadas essas pausas, apresentações ou demos em que Jobs sai do palco por alguns minutos, voltando depois com entusiasmo. É aplaudido até quando fala do preço do iPad 2 -além de jornalistas, há na plateia clientes e fornecedores selecionados.
Até que enfim tudo termina. Jobs conseguiu mais uma vez e sai de cena levando consigo sua magreza. Toca "A Hard Day's Night".

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