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ANÁLISE COMMODITIES
O apetite voraz da China por soja vai superar as previsões
FERNANDO MURARO JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA
Além da desvalorização do
dólar, que tem contribuído
decisivamente para a alta
dos preços das commodities,
a soja conta com um fator a mais para empurrar suas cotações para cima na Bolsa de Chicago: a China.
Estrela desse mercado já há alguns anos, o país asiático tornou-se o maior importador mundial do grão no início da década de 2000, quando tirou o posto da União Europeia.
Em dez anos, as compras da China multiplicaram-se por cinco, chegando a 50,5
milhões de toneladas na temporada 2009/10, o que equivale a 54% de toda a soja exportada no mundo, segundo o Usda (Departamento de Agricultura dos EUA).
Para 2010/11, a expectativa do órgão é que a China importe 55 milhões de toneladas. Apenas nos EUA, as
compras chinesas já estão 24% acima das feitas há um ano, quando as importações já corriam em ritmo recorde.
Mas, de onde vem todo esse apetite da China por soja?
A primeira explicação, claro, tem a ver com o crescimento do país, que trilhou,
em apenas três décadas, a distância entre a pobreza e a posição de segunda economia do mundo.
Para alimentar a maior população do planeta -são 1,3
bilhão de habitantes, boa
parte dos quais comendo
mais e melhor a cada ano-, a
China precisa alimentar também, com soja, o maior rebanho mundial somado de suínos, aves e bovinos.
Os números falam por si:
na década de 1960, o consumo per capita de carne dos
chineses era de aproximadamente 8 quilos por ano -metade da média mundial. Nos
últimos dez anos, o consumo cresceu para 47 quilos, contra 33 quilos no mundo.
A segunda explicação vem
da incapacidade de aumento
da produção local. Embora
seja o quarto país do mundo
em extensão territorial, na
China a agricultura tem de
disputar espaço com desertos, montanhas, clima desfavorável e um crescimento urbano explosivo.
Com isso, a área cultivada com soja, que se concentra no nordeste do país, é mais ou menos a mesma de há 40 anos.
O solo ruim e o manejo rudimentar que predomina nas áreas rurais (ainda muito distantes da pujança das cidades que viraram cartão postal
da China potência) resultam
em uma produtividade que
corresponde a pouco mais da
metade da obtida nos EUA, no Brasil e na Argentina.
A produção está estagnada em torno de 15 milhões de
toneladas, muito pouco perto de um consumo estimado
em quase 70 milhões de toneladas -oito vezes mais que há 40 anos.
Como a safra 2010/11, ao que tudo indica, pende mais
para 14 milhões do que para
15 milhões de toneladas -e
como o governo mantém a estratégia de aumentar os estoques, que triplicaram de
2008 para cá-, é bem possível que a importação desta
temporada se aproxime mais
dos 60 milhões de toneladas
previstos pelo mercado do que dos 55 milhões estimados pelo Usda.
FERNANDO MURARO JR. é engenheiro-agrônomo e analista de mercado da
AgRural Commodities Agrícolas.
Internet: www.agrural.com.br
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