São Paulo, quarta-feira, 09 de novembro de 2011

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Agregadores de notícia disputam tablets

Grandes grupos dos EUA lançam aplicativos e buscam novo modelo de acesso a conteúdo de mídia em portáteis

Para especialista em mídia digital, viabilidade do negócio passa, ao menos em parte, pela publicidade

NELSON DE SÁ
ARTICULISTA DA FOLHA

Escolhido pela Apple o aplicativo do ano de 2010, o agregador de notícias Flipboard abriu uma corrida de grandes grupos nos EUA, para estabelecer o que se anuncia como um novo modelo de acesso ao conteúdo de mídia nos tablets.
Na semana passada, o Yahoo! lançou o Livestand. Antes, a AOL já havia lançado o Editions. E o Google, que tentou comprar o Flipboard meses atrás, prepara um concorrente, por enquanto apelidado de Propeller. Eles se juntam a outros já presentes nos tablets, como Pulse e Zite, este recém-comprado pela CNN, da Time Warner.
Ken Doctor, analista da indústria de informação e autor de "Newsonomics" (St. Martin's Press), diz que "ainda é cedo" para apontar que caminho os agregadores para tablets devem seguir. No momento, "são produtos de tipos muito diferentes". O Livestand se concentra em parceiros de conteúdo, tendo como uma de suas âncoras os vídeos da rede ABC. Já o Flipboard, que também procura reunir parceiros, já contando com "Economist" e "USA Today", permite maior presença de conteúdo de seleção própria do usuário, via RSS e mídias sociais.
"O Livestand está muito mais para uma revista", afirma Doctor, "enquanto o Flipboard é mais um site noticioso, também com destaques como uma revista. E agora o Google vem aí com algo diferente de novo. A expectativa é que inclua o Google Reader, que já é bastante usado, o Google+ e o Google Circle, ou seja, mais para um leitor de notícias e para uma experiência social."
Jeff Sonderman, pesquisador de mídia digital do Instituto Poynter, também afirma que "estamos ainda nos primeiros dias da tentativa de encontrar um modelo de negócios para os aplicativos agregadores".

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Mas diz que já é possível perceber "alguns líderes iniciais", como Flipboard, Zite e Editions, e apontar que o caminho para que as experiências se tornem sustentáveis passa, ao menos em parte, por publicidade.
No caso do Flipboard, dos 50 parceiros de conteúdo, somente 6 já estão trabalhando com publicidade no agregador de tablet. O Flipboard não deu detalhes dos contratos, mas Robert Scoble, analista ligado à empresa de tecnologia Rackspace e que revelou a entrada do Google na corrida, diz que a receita com publicidade é dividida entre as duas partes. "A percentagem é diferente, dependendo de quem traz o dinheiro", diz Scoble.
"Se o jornal vende um anúncio, fica com a maior parte. Se é o Flipboard que traz, ele fica com a maior parte." Doctor afirma que os percentuais são de 70% e 30%.
Da parte dos fornecedores de conteúdo, como jornais, a divisão de publicidade não é a maior preocupação, diz Doctor. "O temor é que tire tráfego de seus próprios aplicativos. Que o leitor vá para os agregadores que usam tecnologia HTML5, sem passar pelo iTunes, e não para os apps do 'New York Times' ou do 'Wall Street Journal'."
Foi o que fizeram "com muita eficiência" os mesmos Google e Yahoo! na internet on-line, anteriormente, sublinha o analista. O "NYT" chegou a se unir ao "Washington Post" e à rede Gannett de jornais, com um agregador próprio para tablets, Ongo, mas este "aparentemente não está indo bem", diz Doctor.

EM TESTE
Tanto Scoble como Doctor, que experimentaram no fim de semana o recém-lançado Livestand, consideram que o produto do Yahoo! está aquém do Flipboard. "É lento e difícil de navegar", afirma Scoble.
Mas os três analistas ouvidos pela Folha insistem em que é cedo -e que a própria entrada de grandes grupos na disputa indica que o campo está aberto, para experiência e inovação, sendo impossível apontar qual produto vai sobreviver e se destacar. "Temos que lembrar que apenas um em cada dez americanos adultos tem um tablet, hoje", diz Sonderman, referindo-se a uma pesquisa do instituto Pew, divulgada há três semanas.
"E nós acreditamos que isso deve dobrar até o fim do ano que vem. Novos produtos e novas marcas têm uma oportunidade única aqui, que eles não têm mais on-line", diz Doctor.


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