São Paulo, quinta-feira, 09 de dezembro de 2010

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Estrangeiro vê gestão Dilma com cautela

Especialistas dizem que os investidores temem que a presidente aumente o papel do Estado na economia

Brasil terá que escolher entre desenvolvimento acelerado ou mais qualidade de vida, diz economista americano

CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK

Investidores estrangeiros estão olhando o próximo governo brasileiro com ""cautela". Para especialistas ouvidos pela Folha, Dilma Rousseff deve aumentar o papel do Estado na economia, em vez de incentivar o desenvolvimento do setor privado.
"Acho que os investidores internacionais estão cautelosos com relação à ideia de que o setor estatal no Brasil pode continuar a conduzir a economia e de que sua proporção pode aumentar", afirmou Jim O'Neill, presidente da divisão de gestão de ativos do banco Goldman Sachs.
Para O'Neill, que cunhou a sigla Bric (para designar os emergentes Brasil, Rússia, Índia e China), "o Brasil não é a China e, se a Dilma seguir por esse caminho, isso pode significar um período mais desafiador para o humor do investidor sobre o país".

COMO EM 2002
Em editorial publicado no dia 26 passado, o "Financial Times" sentenciou que "investidores estão preocupados como se fosse 2002".
Para o jornal, o "novo time econômico fez todos os barulhos certos", prometendo corte de gastos e autonomia do Banco Central, mas os "mercados não estão convencidos".
"A escassez de histórico público da presidente eleita, Dilma Rousseff, combinada com as oscilações da economia internacional, chegou até a lembrar alguns do pânico que surgiu quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu, há oito anos, e ninguém sabia quais eram as suas políticas econômicas."
Lisa Schineller, diretora de ""ratings" soberanos da agência Standard & Poor's, acha que as preocupações são ""muito diferentes" do que eram quando Lula assumiu.
""Há discussões sobre o tom da política fiscal, a necessidade de desacelerar, a magnitude do endurecimento necessário às políticas monetária e fiscal, quanta orientação do Estado haverá. Mas as preocupações têm magnitude diferente das de 2002."
""Hoje, o debate está em outro nível. Os alicerces da política econômica estão muito mais fortes do que eram", afirmou Schineller.
Para o economista Thomas Trebat, diretor-executivo do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade Columbia, em Nova York, ""o Brasil está num tipo de encruzilhada".
"O país gostaria de continuar melhorando a qualidade de vida dos brasileiros. Por outro lado, quer ter desenvolvimento acelerado, como o chinês, o indiano. E é preciso escolher. O Brasil não tem capacidade fiscal para fazer os dois."
Trebat disse que, ""se o Brasil quiser avançar a todo o vapor nas duas frentes, corre um sério risco de ficar sobrecarregado".
"A presidente eleita não está dando sinais claros de que ela percebe que tem que fazer uma escolha equilibrada das tarefas. São tempos de grande oportunidade e de grande risco para o Brasil."

SETOR PRIVADO
Para Trebat, é preciso criar condições para o crescimento ""do setor privado livre e com plena concorrência" e ""diminuir o papel econômico do governo".
Lisa Schineller acha que ""o desafio principal [de Dilma] é no setor fiscal" e que o mercado estará atento para ver como ela concilia o aumento de gastos do Estado -com infraestrutura, por exemplo- com os prometidos cortes no Orçamento.
Para ela, o mercado americano não está preocupado, como em 2002, com mudanças no modelo econômico. ""É mais uma questão de afinar o modelo de uma maneira de que se goste ou não."


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