São Paulo, quinta-feira, 09 de dezembro de 2010

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JULIO VASCONCELLOS

Presidente Dilma, contrate um CTO


Esperamos que, no novo governo, as tecnologias novas não sejam utilizadas apenas de forma cosmética

DURANTE A CAMPANHA eleitoral norte-americana, Barack Obama não se desgrudava de seu Blackberry, por meio do qual acompanhava o andamento de todas as iniciativas eleitorais.
Esse hábito, que virou alvo de inúmeros comediantes, é apenas um dos sinais exteriores do uso intensivo que o presidente dos Estados Unidos faz da tecnologia.
Segundo os jornais, a presidente eleita, Dilma Rousseff, traz sempre seu laptop a tiracolo e é fã inveterada de apresentações de PowerPoint.
Tomara que isso também seja um sinal de um compromisso maior com a utilização da tecnologia para aprimorar o governo e sua interação com os cidadãos.
Esperamos que, no novo governo, as novas tecnologias não sejam utilizadas apenas de forma cosmética, permitindo baixíssimo grau de interatividade, como aconteceu na última campanha eleitoral brasileira (escrevi a respeito do tema, em artigo publicado neste mesmo espaço em 16 de setembro, intitulado "Campanha 1.5").
Um bom indicativo de compromisso mais abrangente com a utilização das mais diversas tecnologias seria a criação de um cargo de CTO (Chief Technology Officer) no governo brasileiro -e a escolha de um nome adequado para ocupá-lo. Cargo comum nas grandes empresas, o CTO é o executivo responsável pela gestão e pelo acompanhamento das atividades tecnológicas e científicas da corporação. Observando também o cenário externo de pesquisa e desenvolvimento, ele busca elementos que auxiliem a empresa em sua atividade-fim. Ao chegar ao governo, Obama criou pela primeira vez o cargo de CTO em âmbito federal. Para ocupá-lo, escolheu Aneesh Chopra, que já havia desenvolvido atividade semelhante no Estado de Virgínia.
No comunicado à imprensa, uma das missões atribuídas ao CTO é tornar o governo mais transparente.
Tal missão deveria ocupar boa parte da agenda de um eventual CTO brasileiro, caso ele existisse.
Nesse quesito, a transparência, estamos nos dois extremos do espectro tecnológico. Na hora de arrecadar, o Estado brasileiro é criativo, eficiente, integrado e transparente.
Exemplo disso é sistema de nota fiscal eletrônica, onde municípios, Estados e União trocam informações constantemente.
Para incentivar todos os consumidores a pedir a nota fiscal, vários Estados adotam um sistema engenhoso. Não só devolvem parte do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) arrecadado, como ainda promovem sorteios em que um determinado valor das compras vira um bilhete.
Na hora de gastar, ou de mostrar como está gastando, o Estado é defasado, obscuro e ineficiente. Os mesmos entes federados que estão integrados na hora de arrecadar, quando vão investir (ou gastar), ainda trocam correspondência em papel para administrar e acompanhar os respectivos convênios.
Os diversos projetos espalhados por toda a Esplanada dos Ministérios, quando muito, são administrados por sistemas de gestão de projetos completamente diferentes e desintegrados.
Nos Estados Unidos, Chopra já conseguiu avanços notáveis nesses dois anos de gestão. Dentre outras coisas, fomentou, no Vale do Silício, a criação de inúmeros "aplicativos de interesse público" em áreas como saúde e educação.
Também avançou no quesito de transparência, atendendo solicitações da sociedade civil para disponibilizar repositórios de dados, em estado bruto, no site data.gov.
O Brasil tem entidades da sociedade civil mobilizadas em torno do tema da transparência e muitos programadores criativos e talentosos à disposição. Agora, só falta o governo fazer a sua parte. A nomeação de um CTO à altura do desafio já seria um bom começo.


JULIO VASCONCELLOS, 29, economista, é fundador e presidente-executivo do site de compras coletivas Peixe Urbano. Escreve às quintas-feiras, mensalmente, nesta coluna.

julio.folha@yahoo.com


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