São Paulo, quinta-feira, 09 de dezembro de 2010

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ANÁLISE

Gravidade histórica da inflação brasileira explica ação do BC

Crítica de que o Banco Central poderia ter "normalizado" a taxa perde força diante da situação vivida pelo país


O BRASIL FOI UM DOS RARÍSSIMOS CASOS NO MUNDO A CONVIVER COM TAXAS DE INFLAÇÃO ESTARRECEDORAS DURANTE DÉCADAS, CRIANDO UMA "CULTURA INFLACIONÁRIA" QUE FOI EXTREMAMENTE DIFÍCIL DE EXTIRPAR

MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE
ESPECIAL PARA A FOLHA

A última reunião do Copom de 2010 também marca o fim da era Henrique Meirel- les à frente do Banco Central.
Como outros já disseram ao longo da semana, o balanço dos oito anos de Meirelles na presidência da instituição foi muito positivo.
Apesar de ainda estarem altas para padrões internacionais, as taxas de juros brasileiras apresentaram uma indiscutível trajetória de queda durante o período. E a inflação do país convergiu para o intervalo do regime de metas, entre 2,5% e 6,5% ao ano, consolidando o ambiente de estabilidade macroeconômica.
Essa consolidação, em conjunto com as reformas institucionais herdadas do governo anterior, possibilitaram a queda do risco-país e a redução do endividamento externo, permitindo que se alcançasse o cobiçado grau de investimento em 2008.
Muitos perguntam se o Banco Central não deveria ter sido mais agressivo na redução dos juros durante esses últimos oito anos, "normalizando" as taxas brasileiras mais rapidamente. É uma pergunta válida. Mas perde força quando considerada a gravidade histórica do problema inflacionário do país.
O Brasil foi um dos raríssimos casos no mundo a conviver com taxas de inflação estarrecedoras durante décadas, criando uma "cultura inflacionária" que foi extremamente difícil de extirpar.
Nesse contexto, enquanto os primeiros anos do sistema de metas de inflação -do fim da década de 1990 até o início dos anos 2000- foram marcados pela necessidade de implantar as bases institucionais do novo regime, o período que se seguiu, durante o governo e a gestão de Meirelles no Banco Central, foi a época da consolidação.
Portanto, apesar da história não permitir exercícios contrafactuais, é no mínimo possível dizer que reduzir os juros mais agressivamente nos últimos oito anos teria sido uma estratégia arriscada.
Embora Meirelles deixe uma herança positiva para a política monetária brasileira e para o BC, os ganhos de credibilidade precisam ser constantemente reforçados.
O bom desempenho da economia brasileira tem sido caracterizado pelo surgimento de alguns desequilíbrios importantes, sobretudo o forte descolamento observado entre a demanda interna e a capacidade de oferta.
Impulsionada por esse descompasso e pelos choques nos preços de alimentos, a inflação subiu rapidamente desde meados do ano, necessitando de uma ação mais enérgica do governo.
É imperativo, como muitos têm ressaltado, que se faça ajuste nos gastos do governo, ajudando a conter a expansão exagerada da demanda.
É também muito importante complementar esse esforço com o reinício do aperto monetário, permitindo que o regime de metas cumpra o seu papel fundamental na garantia da estabilidade, como muito bem enfatizou o futuro presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.
Só assim alcançaremos o almejado objetivo de reduzir, paulatinamente, o nível dos juros brasileiros.


MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE é economista, professora da PUC-RJ e diretora do Iepe/Casa das Garças



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