São Paulo, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

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ANÁLISE PECUÁRIA

Aumento do preço da carne bovina depende da velha lei de mercado

PAULO DE CASTRO MARQUES
ESPECIAL PARA A FOLHA

A primeira reação do consumidor ao se deparar com os elevados preços da carne bovina é culpar o varejo.
Mas desta vez o supermercado não tem culpa -pelo menos não toda. Os aumentos seguidos da picanha, da maminha e da alcatra do churrasco decorrem da boa e velha lei de mercado. No momento atual, a demanda está aquecida e a produção não tem condições de evoluir.
O consumo está quente porque o brasileiro tem mais recursos em mãos e, com isso, quer a carne bovina mais vezes por semana no prato.
Estudos de economistas de várias partes do mundo apontam para o aumento da procura por carne vermelha sempre que há mais dinheiro circulando.
Ou seja, se a economia está aquecida, é sinal de maior procura por carne. Isso ocorre em todos os países em expansão, os emergentes. No Brasil não é diferente.
Ocorre que o aquecimento da economia nos últimos dois ou três anos pegou a cadeia da carne bovina em um momento especial. A atividade vive historicamente períodos de altos e baixos da produção. O atual é de baixa oferta.
Os fatores são vários. Um dos mais relevantes é o elevado abate de fêmeas, que atingiu patamares próximos de 50% em alguns momentos dos últimos anos.
Isso significa que os frigoríficos chegaram a trabalhar com volume equivalente de machos e fêmeas, quando o percentual ideal está na faixa dos 30% de vacas.
Esse crescimento do abate das fêmeas ocorreu -e alguns analistas defendem que ainda ocorre, porém em níveis um pouco inferiores- por diversos motivos.
De um lado, o pecuarista convivia (entre 2004 e 2009, especialmente) com baixos preços da arroba do boi gordo. Assim, não se motivava a segurar as matrizes para reprodução.
De outra parte, os frigoríficos nunca tiveram tantos contratos para exportação.
Assim, conseguiam aten- der aos pedidos adquirindo matéria-prima (gado) por valores baixos.
O consistente e crescente aumento do consumo doméstico e o fortalecimento do real ante o dólar desequilibraram essa balança. Os frigoríficos passaram a valorizar a demanda interna, além de se manter ativos externamente. Porém, a produção estava reduzida por conta dos motivos já expostos.
O resultado é a carne bovina no varejo pressionando os índices inflacionários, o que é ruim para o país e arranha a imagem da atividade.
Como evitar essa gangorra? Defendo uma política clara, que permita aos pecuaristas o planejamento e o investimento a médio e longo prazos. Sem nenhuma segurança para segurar as fêmeas na fazenda, a saída é vendê-las.
Porém, a pecuária é uma atividade de ciclo longo. São necessários pelo menos dois anos para colocar um animal no peso ideal para abate.
O pecuarista prefere estabilidade a ganhar muito em um momento e perder em outro. Para que isso ocorra, é preciso ter mecanismos para sua proteção.
Linhas de crédito especiais para determinados momentos, como os de redução drástica e rápida dos preços do boi gordo, por exemplo, podem ser um caminho.
Mas certamente há outros, e as autoridades precisam estar atentas para isso. Até porque o panorama atual ainda deve se manter por um bom tempo.

PAULO DE CASTRO MARQUES, empresário e pecuarista, é proprietário da Casa Branca Agropastoril e presidente da ABA (Associação Brasileira de Angus).


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