São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 2011

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Menor área plantada com milho nos EUA poderá elevar os preços

Americanos semearão 600 mil hectares menos neste ano, calcula departamento de agricultura

A consequência é que os produtores brasileiros de carne vão ter custos maiores, o que pode ter impacto sobre inflação


MAURO ZAFALON
COLUNISTA DA FOLHA

O plantio de milho atrasou e os norte-americanos perderam o tempo ideal de semear o cereal. O resultado foi que o Usda (Departamento de Agricultura dos EUA) indicou ontem que a área semeada deverá recuar 600 mil hectares na safra em 2011/12 em relação à estimativa de maio.
A safra norte-americana, prevista inicialmente em 343 milhões de toneladas, deverá ficar em 335 milhões. A área atual estimada, mesmo com o recuo, ainda supera a de 2010/11, e o volume produzido poderá ser recorde.
O órgão estima a safra atual com base em uma linha média de tendência da produtividade dos últimos 20 anos. Para que esse volume se concretize, no entanto, o clima deverá ser favorável daqui até o final de agosto, segundo Daniele Siqueira, analista da Ag Rural.
O anúncio de redução de área no cultivo nos EUA fez o milho subir 2,81% ontem.
Mesmo com a safra recorde, os estoques estão em patamar baixo. No final da safra 2011/12, serão suficientes para apenas 19 dias de consumo nos EUA (o estoque mundial deve recuar para 47 dias, o mais baixo em 38 anos).
Se a produtividade prevista pelo Usda não se concretizar e repetir a de 2010/11, a safra recuaria para 323 milhões de toneladas e os estoques finais dariam para apenas seis dias de consumo.
Leonardo Sologuren, da consultoria Clarivi, concorda com Daniele e diz que a safra dos EUA não deve ser vista apenas pelo lado da redução de área, mas também pela evolução daqui para a frente.
Mas os problemas não se restringem aos EUA. O clima no Brasil também não tem sido muito favorável.
Sologuren estima que o clima deva provocar perdas de 1 milhão de toneladas em Mato Grosso, enquanto Daniele diz que algumas regiões do Paraná também foram afetadas pelo clima.

CARNES E INFLAÇÃO
Esse fatores "são uma indicação de um cenário claro de manutenção de preços internos e externos", diz Sologuren. A alta de preços vai respingar sobre a margem de ganho dos produtores de carnes e sobre a taxa de inflação.
Segundo Sologuren, suinocultores e avicultores não conseguirão absorver o custo do milho a R$ 30 por saca.
Geraldo Salaroli, suinocultor de Bragança Paulista (SP), diz que os custos de produção ficam próximos de R$ 60 por arroba, enquanto o valor de venda é de apenas R$ 39,50. "O efeito dessa diferença, próxima de R$ 20 por arroba, é mais sério do que se imagina nas contas dos suinocultores", diz ele.
Ele não crê em falta de milho e até aposta na manutenção dos preços no segundo semestre. A alta dos custos, no entanto, sem a resposta dos preços de venda, fará os produtores pisarem no freio.
A situação já está tão complicada que Salaroli não consegue fechar as contas há vários meses, segundo ele.


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