São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 2011

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ANÁLISE CANA

Baixo preço pode levar Índia a reduzir a produção de açúcar

PLINIO NASTARI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Por permanecer estável e abaixo dos níveis internacionais desde o início da safra, o preço do açúcar no mercado interno indiano pode afetar o interesse dos agricultores em cultivar a cana-de-açúcar.
Em Maharashtra, maior Estado produtor indiano, a área plantada com cana-de-açúcar deve cair em torno de 5%, passando de 1,02 milhão para 970 mil hectares.
Como os preços internos do açúcar estão pouco remuneradores, já que o acesso ao mercado externo é limitado, produtores agrícolas se veem encorajados a diversificar o plantio, direcionando parte da área para o cultivo de soja, de milho e de girassol.
O fraco desempenho da produtividade agrícola permite imaginar a moagem de apenas 73 milhões de toneladas de cana em Maharashtra, ante 81 milhões em 2010/11.
Essa moagem proporcionaria 8,3 milhões de toneladas de açúcar na próxima temporada, que começa em outubro, bem abaixo do recorde de 9,2 milhões de toneladas registrado em 2010/11.
Levando-se em conta apenas o recuo da oferta em Maharashtra, já é possível antever que a produção de açúcar da Índia em 2011/12 poderá ser igual àquela registrada em 2010/11, que foi de 24,2 milhões de toneladas.
Contudo, é possível que agricultores de outros importantes Estados produtores também sigam o mesmo caminho, o que pode significar que o ciclo de crescimento da produção indiana tenha se encerrado. Esse é um dos fatores que têm norteado o comportamento do mercado mundial do produto.
Mas por que o preço do açúcar no mercado doméstico da Índia ainda não reagiu às expectativas de menor produção?
A principal justificativa recai sobre a demanda interna, que mostrou certo enfraquecimento nos últimos meses. Uma indicação desse comportamento é dada pelas cotas de vendas domésticas de açúcar liberadas mensalmente pelo governo indiano, que estão abaixo da média.
Resumidamente, a intervenção do governo indiano não permite aos produtores enxergarem os sinais de mercado, via preço.
Essa mesma situação foi observada no Brasil antes da liberação dos mercados de cana, de açúcar e de etanol.
Foi a liberação dos mercados, e a redução da intervenção a um nível mínimo, que trouxe o ambiente propício ao investimento privado.
Esses investimentos permitiram que, entre 1999 e 2010, a moagem de cana-de-açúcar no Brasil passasse de 308 milhões para 620 milhões de toneladas.
O resultado foi que a produção de açúcar subiu de 19,5 milhões para 38 milhões de toneladas. Ao mesmo tempo, a produção de etanol cresceu de 13 bilhões para 27,4 bilhões de litros.
A preservação da intervenção mínima é fundamental para que os investimentos continuem ocorrendo.
O Brasil e a Índia, os dois maiores produtores mundiais de cana, por motivos opostos são os maiores exemplos disso.

PLINIO NASTARI é mestre e doutor em economia agrícola e presidente da Datagro Consultoria.


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