São Paulo, terça-feira, 10 de agosto de 2010

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"Brasil ficará mais dono da Petrobras"

Diretor da Agência Nacional do Petróleo quer preço das reservas "o mais alto possível", antes de capitalização

Quanto maior o valor das reservas, mais ações a União poderá adquirir da empresa, o que prejudica minoritário


VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA

O diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Haroldo Lima, defende que o governo saia "mais dono" da Petrobras após a capitalização da empresa e que o preço das reservas de petróleo que a União usará na operação seja o "mais alto" possível, porque é "bom para os brasileiros".
Lima avalia como "baixo" um preço entre US$ 5 e US$ 6 para o barril de petróleo das reservas que a União cederá à estatal como sua parte no aumento de capital -esse valor é citado por analistas de mercado e criticado internamente pelo governo.
Em entrevista à Folha, ele disse que nem minoritários nem Petrobras podem querer "ganhar" à custa da União pressionando por um preço que não seja "vantagem" para os brasileiros. A ANP contratou a Gaffney, Cline & Associates para avaliar o volume e o valor dos 5 bilhões de barris de petróleo que a União dará à Petrobras na capitalização da empresa. Quanto maior o valor, mais ações poderá adquirir.
Apesar de a consultoria considerar o prazo "estreito", prometeu entregar no final do mês o laudo a ser usado nas negociações entre o governo e a estatal para definir o preço do barril. Leia trechos da entrevista.

Folha - Quando fica pronta a certificação das reservas e do preço dos barris de petróleo que a União usará na capitalização da Petrobras? Haroldo Lima - Fizemos um cronograma com a certificadora, que foi revisto há poucos dias, e foi reconfirmado para o final de agosto. Não há atraso previsto. Pode ser que aconteça, mas até o presente instante a previsão é de cumprir o prazo.

Até o final deste mês saem tanto o cálculo das reservas como do preço dos barris?
A certificação é do cálculo volumétrico e uma apreciação de valor. As avaliações estão sendo feitas nos campos de Franco e de Libra [na região do pré-sal]. A lei da capitalização prevê a cessão onerosa à Petrobras de 5 bilhões de barris de petróleo. Se puder ser medido somente em Franco, será uma vantagem para a União.

Qual a estimativa?
Ainda não temos o número fechado. Estimamos 4,5 bilhões de barris em Franco, antes da certificação.

No mercado se fala num preço do barril de petróleo entre US$ 5 e US$ 6.
Fica difícil para dizer. A certificação está sendo feita e um dos pontos mais controvertidos é a questão do valor. Eu acho que um preço entre US$ 5 e US$ 6 está baixo. É uma opinião pessoal minha.

Quanto maior o preço do barril, melhor para a União?
Daí achar que um barril baixo, entre US$ 5 e US$ 6, não é vantagem para a União, para os brasileiros. Um barril mais alto é bom para os brasileiros. Claro que não podem aumentar de forma aleatória, irrealista. Também não podemos baixar e prejudicar o Brasil.

Qual a sua expectativa com a capitalização? Que o país fique mais dono ou menos dono da Petrobras?
Espero que o Brasil fique mais dono da Petrobras. Toda vez que nós discutíamos isso na antiga comissão, a que discutiu o novo marco regulatório do petróleo, dizia que nós estávamos projetando muitos favorecimentos à Petrobras, como a cessão de 5 bilhões de barris, a condição de operadora única.
Tudo isso se justificava, posto que nós poderíamos sair mais donos da Petrobras.


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