São Paulo, terça-feira, 11 de janeiro de 2011

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China trava avanço de mineral raro no país

Concorrência, dificuldades técnicas e burocracia são barreira à exploração de minérios usados em computadores e naves

Brasil responde hoje por 0,5% da produção mundial, apesar de ocupar o 3º posto em relação a reservas

NEY HAYASHI DA CRUZ
DE BRASÍLIA

De isqueiros a naves espaciais, passando por computadores e alto-falantes.
É grande e variada a lista de produtos que não poderiam existir se não fossem os chamados minerais raros, nome dado a um grupo de 17 minérios que, apesar de serem diferentes, apresen- tam propriedades químicas semelhantes.
O Brasil é um dos únicos países do mundo a possuir reservas confirmadas desses metais, ocupando, de acordo com estimativas para 2009, a terceira principal fonte de minerais raros no planeta.
Mesmo assim, a exploração no país é limitada por fatores como a forte concorrência da China -maior produtor mundial desses minérios-, dificuldades técnicas e obstáculos burocráticos.
No ano passado, o país produziu 650 toneladas de cério e lantânio, minerais classificados como raros disponíveis no Brasil.
Apesar de ter ficado atrás só de China e Índia nesse ranking, os metais brasileiros respondem por apenas 0,5% da produção mundial.
Os chineses são, disparados, os que possuem as maiores reservas conhecidas de minerais raros e também os que mais os produzem.
Porém, nos últimos meses o assunto tem sido motivo de disputa política, com a China limitando suas exportações para o Japão, um dos principais consumidores.
A ideia da China é condicionar o fornecimento de minerais raros à instalação de fábricas de alta tecnologia.
O raciocínio é o mesmo aplicado por outros países em relação à venda de produtos primários: em vez de exportar matéria-prima, utilizá-la na produção de bens de maior valor agregado.
A estratégia chinesa abre espaço para um grupo de pouco mais de dez países que têm reservas desses minérios e podem, em tese, ocupar esse mercado. No caso brasileiro, porém, há limitações.

EXPLORAÇÃO
Para Décio Casadei, sócio da Casadei Engenharia Mineral, a viabilidade econômica da exploração de minerais raros no Brasil é muito baixa, já que em muitas regiões sua extração é tecnicamente complexa e cara.
"A China consegue vender isso no mercado a um preço baixíssimo porque lá a exploração é muito fácil. Eles possuem uma grande quantidade de minério, que está em regiões muito favoráveis ao beneficiamento", afirma.
O Brasil já foi um produtor de maior peso no cenário internacional, mas, nos anos 1990, dificuldades econômicas reduziram a quase zero esse tipo de exploração.
Em nota, a INB (Indústrias Nucleares no Brasil), estatal que é uma das únicas companhias a possuir reservas de minerais raros no país, culpa o Plano Collor e a concorrência chinesa pelos problemas enfrentados pelo setor.
Restrições ambientais são outra preocupação em relação a esse tipo de exploração, já que os minerais raros existentes no Brasil são sempre encontrados na natureza combinados com minérios que fazem parte do ciclo de produção de energia nuclear, como o urânio e o tório.
Por isso, a produção de minerais raros depende não apenas de licenças fornecidas pelo Ministério do Meio Ambiente, mas também de autorização da Comissão Nacional de Energia Nuclear, órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

DIRETRIZES
Um grupo de trabalho no governo federal trabalha para finalizar nas próximas semanas um relatório com diretrizes a serem seguidas para incentivar o desenvolvimento do setor no Brasil.
"Esse tema deve ser objeto de um programa prioritário e de longo prazo por parte do governo, visando agrupar as competências existentes no país e que estão hoje razoavelmente dispersas em grupos e centros de pesquisa, tanto no setor público como no privado", diz o secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério de Ciência e Tecnologia, Ronaldo Mota.
Segundo o secretário, antes de falar numa efetiva expansão na produção desses minérios no Brasil, é preciso reunir especialistas de universidades, empre- sas, consumidores e potenciais produtores para ma- pear o real potencial do país no mercado.


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