São Paulo, domingo, 11 de julho de 2010

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EUA aumentam negócios com maconha

No Colorado, onde uso medicinal é liberado, empresas oferecem cartões de fidelidade e pontos de venda se proliferam

Na cidade de Boulder, produto é exposto em balcões de lojas e pode ser encontrado até em padarias


DAVID SEGAL
DO "NEW YORK TIMES", EM BOULDER, COLORADO

Nesta afluente cidade universitária conhecida pela mentalidade ecológica, uma das experiências mais estranhas da história recente do capitalismo americano está se desenrolando: a primeira tentativa do país de regulamentar, licenciar e taxar completamente um comércio de maconha com fins lucrativos. Boulder possui hoje, dependendo de quem der a informação, entre 50 e 100 empresas que distribuem legalmente maconha medicinal, e as melhores expõem seus produtos em balcões de vidro, como os encontrados em joalherias ou padarias finas.
As pessoas atrás dessas vitrines, conhecidas como "budtenders", oferecem variedades com nomes como "bubble gum" (chiclete), "sour kush" ("kush" azedo), "God's gift" (dom de Deus) e "blue skunk" ("skunk" azul).
Michael Bellingham, dono do Dispensário de Maconha Medicinal de Boulder, segura um pote da variedade "Jack, o Estripador". "É muito séria, muito forte. Vai direto para o seu cérebro", diz ele.
No Colorado, foi aprovada em 2000 uma emenda constitucional que legalizou a maconha medicinal. Centenas de dispensários surgiram e um número surpreendente de moradores sofre de "dores severas", a mais popular das oito condições que podem ser tratadas legalmente com a erva que já foi considerada "do demônio".
Muitos vendedores têm longa história com a maconha e ainda hesitam em revelar seus verdadeiros nomes. E nenhum dos donos se ofereceu para mostrar ao repórter seu "grow", como são conhecidas as plantações hidropônicas, em ambientes fechados.

CARTÃO FIDELIDADE
Há regras estritas sobre o tamanho das plantações e, é claro, em âmbito federal, a erva continua ilegal. A maioria dos proprietários, porém, gosta de mostrar seus produtos nas lojas.
Os clientes costumam comprar um ou dois gramas de cada vez, e muitos dispensários oferecem cartões de fidelidade -compre bastante e ganhe um pouco de graça. Se fumar não agrada, há muitos alimentos feitos com maconha, como biscoitos, cremes e barras doces.
Os comerciantes de maconha do Colorado tiveram de tomar muitas decisões básicas quando começaram. Entre elas: qual deveria ser a aparência de um dispensário de maconha medicinal? Segundo a lei estadual, a cannabis deve ficar em "áreas de acesso limitado", mas, no que diz respeito a diretrizes sobre decoração de interiores, é tudo. Por isso, há uma grande variedade.
O Greenest Green parece um bar de Amsterdã (Holanda), com um quadro-negro anunciando, em giz colorido, as promoções do dia, assim como um equipamento de som que toca reggae.
Até a entrada em vigor de uma nova lei, os pacientes podiam se "medicar" no local, com opções que incluíam uma dose de óleo de haxixe por US$ 5, com um elaborado cachimbo de água chamado "skillet".
O Green Room tem um bar de café expresso e uma sala separada para massagem. Outro, o Dr. Reefer -(Dr. Baseado) é o nome do dispensário e o apelido do dono- é orgulhosamente bagunçado. "Este lugar vendia cachorro-quente e se chamava What's Up Dog, e meu lugar era no porão", diz Pierre Werner, o Dr. Reefer em pessoa.

MEDICINAL
Os comerciantes dizem que, para ter sucesso no negócio, são necessárias duas coisas essenciais. A mais importante é conseguir muitos "direitos de cuidador", que qualquer pessoa com um certificado para consumir maconha medicinal pode dar a seu vendedor preferido.
Quanto mais direitos de cuidador um dispensário conseguir, mais maconha poderá vender.
A segunda é: plante sua erva. Meio quilo de maconha pode ser vendido no varejo por algo entre US$ 5.000 e US$ 7.500. Comprar essa quantidade no atacado custa cerca de US$ 4.000. Plantando você mesmo, custa cerca de US$ 750 a US$ 1.000.
Uma série de regulamentos assinados pelo governador em junho deverá tirar do negócio muitos dispensários. Há restrições sobre horário, licenciamento e rotulagem.
Os donos de dispensários, de modo geral, não se queixam. Quanto mais regulamentado for o negócio, mais fácil será operar, disse Ravi Respeto, a gerente da Farmacy. A empresa gostaria de expurgar o setor de sua imagem de contracultura e transformá-lo em uma corrente dominante.
"O que se ouve falar é de um bando de garotos que só querem ficar "chapados". Você vê pouco disso no nosso estabelecimento. O que mais se vê são mulheres de 50 anos que sofrem de artrite e esse é seu analgésico preferido", diz Respeto.

Tradução de LUIZ ROBERTO M. GONÇALVES



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