São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2011

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ANÁLISE INFRAESTRUTURA

Governo precisa definir as prioridades dos investimentos

LUIZ ANTONIO FAYET
ESPECIAL PARA A FOLHA

O acirramento da crise internacional confirma que ela será grande e duradoura.
A globalização intensificada nas últimas décadas estimulou o "nível de aspirações" de forma avassaladora. As pessoas passaram ao conflito entre querer ter e a frustração de, a cada dia, estarem mais distante dos desejos.
Nesse contexto, oportunidades oferecidas pelos mecanismos de crédito passaram a ser o caminho da felicidade, antecipando consumos incompatíveis com a renda.
Perto de 2007, as famílias dos EUA atingiram endividamento de 100% do PIB do país. Aí a crise explodiu.
Os países mais bem administrados reagiram investindo vigorosamente em programas de eficiência energética e em infraestrutura de transportes, visando aumentar a competitividade sistêmica.
O Brasil optou por estimular o consumo alavancado pelo crédito e por redução de tributos, induzindo também ao endividamento das famílias.
Especialistas falam que as renúncias fiscais atingiram cerca de R$ 15 bilhões. Assim, o saldo do endividamento das famílias passou de R$ 76,1 bilhões em 2002 para R$ 417,3 bilhões em 2010; para automóveis, de R$ 26,9 bilhões em 2002 para R$ 140,3 bilhões em 2010; no setor imobiliário, de R$ 1,7 bilhão para R$ 7,3 bilhões (Fonte: Banco Central - Pessoa física; a análise do Relatório PAC 2, de 29 de julho de 2011, quadro macroeconômico, págs. 18 e 20, mostra os resultados contraditórios dessas desonerações).
Como resultado lógico, a inadimplência avança, a desindustrialização mostra sua face e os setores ainda competitivos passam a ser gravosos para os produtores por falta de infraestrutura.
Dos 56 milhões de toneladas de soja e milho produzidos acima do paralelo 15 S no Centro/Norte/Nordeste, 38 milhões são deslocados para exportações pelos portos do Sul e do Sudeste.
Assim, levar soja da porteira até um porto no Brasil custa quase três vezes mais do que na Argentina e nos EUA.
É preciso rever a política portuária, admitir a liberdade dos investimentos privados e aproveitar a liquidez financeira internacional.
A CNA combate até no Judiciário o ilegal decreto nº 6.620/2008, vilão da tragédia. A CNI prega sua revogação.
Para o conjunto dos investimentos, o problema só se agrava. Os dados Siga/Senado informam que, do orçamento autorizado para infraestrutura no PAC/2011, de R$ 40,8 bilhões, somente R$ 11,6 bilhões foram empenhados até o dia 3 deste mês.
Agora, volta o governo estimulando o consumo e o endividamento familiar com a redução de tributos sobre veículos. Adicione-se a isso o trem-bala, estimado em R$ 53 bilhões, e as obras da Copa, com orçamento de R$ 25 bilhões (episódio de 45 dias).
São ralos gigantes, doação de dinheiro e direitos públicos para "negócios" privados, intoleráveis para um país que está com as contas externas explodidas, a inflação em alta e a economia arrefecendo.
É preciso mudar as prioridades, pois a conta já está muito alta e a população, cansada dessas histórias.

LUIZ ANTONIO FAYET é economista e consultor em logística.


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