São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2010

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FINANÇAS PESSOAIS

MARCIA DESSEN - marcia.dessen@bmibrasil.com.br

Evite as aplicações "automáticas", pois elas não agregam valor

Você já reparou que o saldo da sua conta-corrente, quando excede determinado valor, some da conta e é automaticamente "aplicado" pelo banco? Como os depósitos em conta-corrente não são remunerados, esse procedimento parece, a princípio, uma gentileza do banco que toma a iniciativa de investir o dinheiro, evitando que ele fique parado.
E você, induzido a erro pela presteza do banco, deixa de gerenciar adequadamente esses recursos achando que o banco já fez isso por você.
Vamos analisar por que os bancos fazem isso e quais os impactos no seu patrimônio.

RUIM PARA O BANCO
Os chamados "depósitos à vista" são aqueles feitos em contas de livre movimentação (conta-corrente), que podem ser sacados a qualquer momento e não recebem remuneração alguma.
Visto por esse ângulo parece uma maravilha, não é mesmo? Dinheiro de graça, quem não quer?
Acontece que os bancos precisam cumprir uma série de exigências do Banco Central em relação aos depósitos que recebem voluntariamente de seus clientes.
Uma boa parte desse dinheiro, cerca de 58% atualmente, é recolhida ao BC a título de depósito compulsório, sendo que 45% desse montante não é remunerado.
Até aqui, tudo bem: se o banco não paga juros, não é justo que receba, e o dinheiro de graça fica para o governo. Adicionalmente, os bancos são obrigados a emprestar 25% desse montante em operações de crédito rural, com juros subsidiados.
Outros 2% são destinados a operações de microcrédito, restando apenas 15% para os bancos usarem livremente.
Complicado não é mesmo?
O banco corre o risco de crédito, o risco de descasamento entre o prazo da captação do depósito à vista e o prazo do crédito rural, e o pequeno lucro dessa operação não remunera adequadamente os riscos.

SAÍDA PARA O BANCO
Quanto menor o saldo em conta-corrente, menor a quantidade de operações obrigatórias e maior a autonomia dos bancos de gerir seus depósitos como bem entenderem.
Os bancos então criaram produtos que direcionam o dinheiro excedente das contas-correntes para aplicações automáticas, evitando, dessa forma, as exigibilidades do BC já citadas.
A rentabilidade que o banco oferece é baixíssima porque assume que, se o dinheiro estava parado na conta-corrente e não seria remunerado, o cliente não está preocupado com rentabilidade.

RUIM PARA VOCÊ
Se o dinheiro parado em conta for destinado a pagamentos diversos, e será gasto nos próximos dias, não há qualquer impacto negativo.
Mas, se todo ou parte desse valor for excedente de caixa e seria destinado a investimentos, você pode deixar de fazê-lo imaginando que o banco já fez isso por você.
Acontece que a aplicação que o banco faz automaticamente oferece rentabilidade perto de zero, já que a alternativa seria deixar o dinheiro em conta-corrente, sem nenhuma rentabilidade.

SAÍDA PARA VOCÊ
Gerencie a aplicação dos seus recursos financeiros escolhendo o produto de investimento mais adequado para seu objetivo, seu perfil de risco e seu horizonte de tempo.
Consulte sobre a disponibilidade de fundos de investimentos, aplicações em CDB ou poupança, devidamente remunerados, programados para resgate imediato caso a conta acuse saldo devedor.
Assim, você terá a situação ideal: receberá rentabilidade competitiva sobre os recursos disponíveis e não pagará juros sobre eventual saldo devedor que será coberto mediante resgate automático.
Moral da história: as aplicações que investem o dinheiro excedente em conta-corrente automaticamente são positivas para os bancos, não para você. Evite-as.


MARCIA DESSEN, Certified Financial Planner, é sócia e diretora-executiva do BMI Brazilian Management Institute, professora convidada da Fundação Dom Cabral e cofundadora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros.


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