São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2010

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Indiano defende lucro para erradicar pobreza

Para bilionário fundador da SKS Microfinance, capitalismo pode fazer mais para reduzir pobreza do que ONGs

Vinod Khosla pretende investir em outras empresas que visem lucrar ajudando população mais carente

VIKAS BAJAJ
DO "NEW YORK TIMES", EM MUMBAI (ÍNDIA)

Vinod Khosla, co-fundador da Sun Microsystems e bilionário investidor no setor de capital de risco para fomentar empresas, já estava entre os homens mais ricos do mundo ao investir na SKS Microfinance, uma instituição de empréstimos a mulheres pobres da Índia.
Mas o sucesso da recente oferta pública inicial de ações da SKS, em Mumbai, o deixou cerca de US$ 117 milhões mais rico e ele declarou que pretende reinvestir o dinheiro em outros empreendimentos que visem a combater a pobreza e prover lucro.
Nascido na Índia mas radicado no Vale do Silício, Khosla quer criar um fundo de capital para empreendimentos a fim de investir em empresas que foquem nos pobres da Índia, África e outras áreas, oferecendo serviços como energia, saúde e educação.
Ao apoiar empresas de empréstimos educacionais ou que distribuem painéis solares em aldeias, diz, seu objetivo é mostrar que entidades comerciais podem ser melhores do que a maioria das organizações de caridade sem fins lucrativos para ajudar as pessoas mais pobres.
"Precisa haver mais experiências com a construção de negócios que tentem operar no mercado dos consumidores mais pobres de forma sustentável", disse Khosla.
As idéias de Khosla são parte de uma escola de pensamento cada vez mais popular: empresas, e não governos ou organizações sem fins lucrativos, deveriam liderar os esforços pela erradicação da pobreza .
Alguns especialistas do setor de organizações sem fins lucrativos afirmam que as empresas comerciais com fins sociais enfrentam limitações e sua atuação gera conflitos de interesse.
Mas proponentes da causa se inspiram no forte crescimento mundial do microfinanciamento, que envolve conceder pequenos empréstimos a empresários pobres e que tem a SKS como uma de suas empresas notáveis.

DOAÇÕES
Os defensores da tese também encontram sustentação intelectual à ideia nas obras de professores de gestão como C. K. Prahalad, que argumentava que grandes empresas podem se sair bem e fazer o bem simultaneamente, ao direcionar suas atividades às pessoas dos degraus mais baixos da pirâmide.
Além de Khosla, empresários como Pierre Omidyar, co-fundador do eBay, e Stephen Case, co-fundador da America Online, criaram fundos com objetivos parecidos.
Mas Khosla, 55, deseja estimular indianos ricos a doar parte maior do patrimônio.
Ele não está sozinho em sua preocupação. Bill Gates, co-fundador da Microsoft, que visitou a China na semana passada em companhia do bilionário investidor Warren Buffett, disse na quinta-feira que os dois poderiam ir à Índia como parte de sua campanha para convencer os muito ricos a doarem metade de suas fortunas.
Atividades de caridade e o investimento para empreendimentos são parte importante das tradições de importantes famílias indianas como os Tata e empresários da tecnologia como Aziz Premji, da Wipro, empresa de terceirização de serviços tecnológicos. Mas muitos outros indianos ricos doam pouco.
Uma recente pesquisa da consultoria Bain estimou que os indianos doam muito menos, como porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB) do país, que os americanos.
Além disso, as doações pessoais e empresariais respondem por apenas 10% das doações na Índia, ante 75% nos EUA e 34% no Reino Unido. O restante vem do governo e de estrangeiros.
Os indianos ricos "preferem construir templos", disse Samit Ghosh, presidente-executivo da Ujjivan Financial, uma empresa de microcrédito sediada em Bangalore, "em lugar de colocarem seu dinheiro em programas reais, que teriam impacto real no alívio à pobreza".
Khosla, que investiu em pequenas empresas de microcrédito e fez doações a organizações sem fins lucrativos, disse que as organizações comerciais cresceram mais rapidamente e atingiram muito mais cidadãos necessitados de crédito.
Ele declarou que desejava ajudar a criar uma nova geração de empresas como a SKS, que começou a realizar empréstimos comerciais em 2006. Hoje conta com 6,8 milhões de clientes e empréstimos de 43 bilhões de rúpias (US$ 940 milhões).
As ações SKS, maior companhia indiana de microfinanciamento, foram lançadas nas bolsas do país na metade de agosto. Desde então, já registram alta de 40%.


TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI


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